Combate à desertificação e à seca: transformando terras problemáticas em terras saudáveis
O cenário de desertificação e seca se intensifica a cada ano. O que fazer para combatê-lo?
Para quem não sabe, a desertificação é caracterizada por extrema degradação ambiental que resulta em perda da capacidade produtiva do solo. Isso acontece em regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, em decorrência de fatores como variações climáticas e atividade humana.
Já a seca, como sabemos, também é um problema sério para todos nós. Principalmente para as pessoas que se encontram em situações de vulnerabilidade. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), as secas estão entre as maiores ameaças ao desenvolvimento sustentável, especialmente nos países em desenvolvimento, mas também, cada vez mais, nos países desenvolvidos. Além disso, as previsões estimam que até 2050 as secas podem afetar mais de três quartos da população mundial.
Como forma de conscientização sobre os impactos causados por esses fenômenos no mundo, no dia 17 de junho é comemorado o dia mundial do combate à desertificação e à seca. Essa data foi proclamada pela Resolução 49/115 adotada na Assembleia Geral das Nações Unidas de 30 de janeiro de 1995.
É um momento de refletirmos sobre os prejuízos causados por nossas ações e, principalmente, de pensarmos em alternativas para minimizar os efeitos desse problema que vem avançando a cada ano em várias partes do mundo. Nesse contexto, a ONU tem como foco transformar terras degradadas em terras saudáveis para construir resiliência econômica, criar empregos, aumentar a renda e aumentar a segurança alimentar.
No último ano, o secretário-Geral Nações Unidas, António Guterres, mencionou em um discurso que restaurar terras degradadas seria uma das formas mais democráticas de acelerar o progresso em direção aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), pois removeria o carbono da atmosfera e ajudaria as comunidades vulneráveis a adaptarem-se às mudanças climáticas. Destacou ainda que a atividade poderia gerar 1,4 trilhão de dólares extras na produção agrícola a cada ano, sem contar que seria uma iniciativa simples, barata e acessível a todos.
São cinco os ODS que apoiam essa iniciativa: ODS 11 (tornar as cidades e comunidades mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis), ODS 12 (garantir padrões de consumo e de produção sustentáveis), ODS 13 (adotar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos), ODS 14 (conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável) e ODS 15 (proteger, restaurar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, travar e reverter a degradação dos solos e travar a perda da biodiversidade).
O Brasil no contexto da desertificação
São 1.480 municípios do Brasil susceptíveis ao processo de desertificação. Atinge, particularmente, os estados do Nordeste, além de Minas Gerais e Espírito Santo. De acordo com estudos realizados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), as áreas suscetíveis à desertificação representam 16% do território brasileiro e 27% do total de municípios.
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), entre os quadros mais graves está o Ceará, onde todos os 184 municípios são afetados por esse fenômeno. Já no Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí a extensão afetada ultrapassa 90% dos seus territórios, onde as condições ambientais são vulneráveis à exploração extrativista ou ao manejo inadequado dos recursos naturais.
Para vencer esses desafios, o Brasil estabeleceu compromissos internacionais visando buscar soluções que atendam às demandas nos espaços áridos, semiáridos e subúmidos secos, em especial onde residem as populações mais pobres. Junto com outros 192 países, o país é signatário da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos das Secas (UNCCD).
A restauração de áreas degradadas e o combate à desertificação
Na América Latina e Caribe vários casos de restauração de áreas degradadas ganharam destaque por serem considerados bem-sucedidos. Entre eles, a Iniciativa 20×20, no qual parceiros se reuniram para avançar no alinhamento de políticas e investimentos capazes de mudar paisagens na região. Já foram recuperados 1 milhão de hectares no México, construídos e expandidos parques nacionais na Argentina e no Chile em áreas de pastagens degradadas. A iniciativa também contou com a restauração de pastagens e plantação de macaúba (uma espécie nativa que produz óleo como alternativa ao óleo de palma) em sistema silvipastoril no Brasil, proteção da Reserva Nacional de Tambopata no Peru e desaceleração do desmatamento na Amazônia Andina.
No Brasil, uma das tecnologias incentivadas pelo Plano ABC é a recuperação de pastagens degradadas. Estima-se que foram recuperados 26,8 milhões de hectares entre 2010 e 2018, uma área maior que o território do Reino Unido, objeto de comparação. Com esse resultado a iniciativa superou a meta do programa, que era de 15 milhões de hectares até 2020.
Também no Brasil, o CTA – Serviços em Meio Ambiente do estado do Espírito Santo tem atendido aos Planos de Recuperação de Áreas Degradadas em diversos estados da Federação. De acordo com a instituição foram recuperados cerca de 400 ha de áreas degradadas, sendo plantadas mais de 350.000 mudas de espécies nativas do Bioma Mata Atlântica, agregando desse modo maior riqueza de espécies, favorecendo a regeneração natural e fortalecendo as relações ecológicas no ecossistema.
Ciência e tecnologia já contribuíram muito e podem contribuir ainda mais
Pesquisas que envolvem o desenvolvimento tecnológico descrevem o impacto da ciência na agricultura brasileira nos últimos 50 anos. Essa evolução já demonstrou o quanto evoluiu e contribuiu no processo de produção agrícola, diversificação e sustentabilidade. O melhoramento genético de plantas, a melhoria de processos no manejo do solo, da água e das pragas na lavoura com a otimização desses recursos são primordiais para a prevenção de danos causados ao meio ambiente, inclusive para as gerações futuras.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Semiárido Iêdo Bezerra Sá, “conciliar o desenvolvimento econômico com o respeito ao meio ambiente somente é possível com tecnologia e informação”. Para isso, são necessárias políticas públicas que incentivem a adoção de tecnologias que minimizem o avanço dos processos de desertificação”.
Estratégias vão desde a adaptação de plantas às condições de escassez de água até sistemas de irrigação integrados ao monitoramento digital do solo e dos cultivos. Com isso, não faltam esforços na busca por soluções para enfrentarmos a seca e atendermos à maior demanda por alimentos, fibras e energia, assim como a geração de empregos.
Com os efeitos climáticos e o crescimento populacional, soluções cada vez mais eficientes e sustentáveis de produção são necessárias e urgentes. Mas com auxílio da ciência, tecnologia e políticas públicas bem conduzidas, estaremos no caminho certo para combater os problemas relacionados à seca e à desertificação.
Principais fontes
Fontes:
Ministério do Meio Ambiente (MMA) Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca. Disponível em: https://antigo.mma.gov.br/gestao-territorial/combate-a-desertificacao/convencao-da-onu.html . Acesso em: 13 jun. de 2022.
Nações Unidas (UN). Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, 17 de junho. Disponível em: https://www.un.org/en/observances/desertification-day . Acesso em: 14 jun. de 2022.
Fonte foto: Adobe Stock