O mundo assistirá nas próximas décadas à redução da disponibilidade de um elemento essencial à vida: a água. De acordo com a Organização das Nações Unidas, em 2050 a população mundial chegará a 9,7 bilhões de pessoas, tendo como consequência um aumento de 50% a 70% no consumo por alimentos, aumentando a escassez de água.

Técnicas agrícolas com objetivo sustentável tornaram-se essenciais tendo em vista a perspectiva de redução da disponibilidade deste recurso, bem como a atual exploração que leva a agricultura a ser responsável por 70% das retiradas globais de água doce.

Um estudo realizado por cientistas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), da Embrapa Solos (RJ) e da Embrapa Meio Ambiente (SP), em parceria com a Universidade da Flórida, mostrou como a adoção do Sistema de Plantio Direto pode promover o aumento da produtividade da água e a redução da erosão.

A pesquisa mostrou que a adesão a esse sistema torna a eficiência do uso da água 11% maior na cultura de grãos. Tendo como foco a produção de soja, o estudo se baseou em um balanço hídrico para que a evapotranspiração (perda de água do solo por evaporação e perda de água da planta por transpiração) do sistema estivesse em harmonia com o ambiente, diminuindo a necessidade de elevada irrigação.

O estudo mostrou ainda que um crescimento maior de 60% na irrigação não levaria a um aumento na produtividade do solo. Ou seja, com a capacidade de evitar perdas através da evaporação, o sistema dispensa o elevado consumo de água.

O que é o Sistema de Plantio Direto?

O Sistema de Plantio Direto (SPD) é uma forma de manejo do solo que usa técnicas para aumentar a produtividade, conservando ou melhorando continuamente o ambiente de cultivo. Este sistema se baseia em três pilares:

• Ausência ou mínimo revolvimento do solo (ou seja, revolver o solo apenas na linha de semeadura – onde são depositadas as sementes);
• Cobertura de Palhada (composto pela matéria orgânica formada pelos restos da planta colhida);
• Rotação de culturas (alternância planejada de espécie em uma mesma área de cultivo, sempre com pequeno intervalo de tempo entre a semeadura e a colheita).

O Plantio Direto é utilizado no Brasil desde a década de 1970, e só coleciona bons resultados. No agronegócio, é considerado uma das tecnologias mais admiradas e comprovadamente eficientes. O sistema de plantio direto, a agricultura de precisão e técnicas modernas e mais eficientes de irrigação e biotecnologia são exemplos de tecnologias que contribuem para manter e aumentar a produção. Também é possível com o plantio direto que a semeação e o plantio sejam feitos em safras seguidas, sem a necessidade de preparar previamente o solo.

A construção deste ecossistema possibilita a economia de água, a diminuição de erosão da terra, o aumento da qualidade da germinação, além de manter a temperatura ideal do solo, o crescimento de matéria orgânica e a fertilidade da terra. Também ocasiona a redução dos custos de produção.

O uso desse sistema sustentável foi reconhecido e incluído no Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas, comumente chamado de Plano ABC, tendo como objetivo a consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na agricultura. Com isso, o plantio direto é um exemplo de sistema sustentável de produção de alimentos e prática agrícola resiliente (uma das bases do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável), como também parte relevante do compromisso da redução da emissão de gases do efeito estufa, assumido pelo Brasil em 2009, na COP15 – Conferência da Biodiversidade da ONU em Copenhague (Dinamarca). O objetivo é diminuir entre 36,1% e 38,9% a liberação desses gases.