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07/11/2022

Teka Vendramini fala sobre o momento do agronegócio brasileiro

Pecuarista e presidente da Sociedade Rural Brasileira, a empresária está presente em todos os eventos e reuniões do setor e dá sua visão nesta entrevista

Empresária rural e pecuarista, Teka Vendramini faz parte da terceira geração de uma família com mais de 80 anos de dedicação à agropecuária. Mãe da Fernanda e avó do Joaquim e do Antônio, ela é socióloga formada pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). Esteve em Paris, França, recentemente, participando de um evento mundial sobre alimentação. E é presença confirmada desde o primeiro Congresso das Mulheres do Agronegócio do Brasil.

Em razão da efeméride do Dia da Pecuária, o Entre Solos – Semeando Conexões a procurou para saber mais sobre o momento da pecuária nacional. Confira.

No dia 14 de outubro se comemora o Dia da Pecuária. Quais são os principais motivos para festejar hoje e o que ainda se busca na pecuária brasileira?

A pecuária brasileira cresceu muito em produtividade, eficiência e adoção de práticas cada vez mais sustentáveis. Essa eficiência nos deu competitividade e escala, por isso avançamos muito nas relações comerciais e somos um dos maiores exportadores de proteína animal do mundo. Somos sustentáveis: a produção de carne avança 3% ao ano, enquanto o rebanho aumenta somente 0,87%. Além disso, a mudança na dieta dos animais, o uso de tecnologias, o manejo adequado de pastagens e o melhoramento genético são os aliados na redução de gases causadores do efeito estufa. Outro exemplo de prática sustentável é a adoção de sistemas como a Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF). O desafio está em mostrar ao mundo que o agro já vem avançando em práticas sustentáveis, que a legislação ambiental brasileira é uma das mais rígidas do mundo, com mais de 33% das matas nativas protegidas dentro das propriedades rurais, por exemplo, o que já deveria nos dar um status de uma produção de alimentos, fibras e energia alinhada aos desafios globais relacionados à sustentabilidade e a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa.

Primeira mulher a presidir a Sociedade Rural Brasileira, que existe desde 1919. O que isso representa para o agronegócio brasileiro, Teka?

Essa é uma pergunta feita quase sempre. Foi grande a repercussão que ocorreu quando pela primeira vez na história da SRB, uma entidade centenária, uma mulher assumia o comando. Eu costumo falar que torço para que um dia não seja preciso comemorar tanto, que seja tão natural uma mulher estar à frente dos negócios e de entidades, que deixe de ser novidade. Estamos construindo um agronegócio mais tecnificado e sustentável juntos, homens e mulheres. Claro, que ainda precisamos de mais mulheres nestas rodas de conversa, com poder de decisão, mas estamos avançando. O olhar aguçado, o diálogo e o perfil conciliador do público feminino têm muito a contribuir.

Quantos produtores rurais compõem a SRB hoje, em 2022? E destes, a maioria é formada por pecuaristas?

Previsto no estatuto, não divulgamos o número de associados na SRB, mas é um público muito diversificado, mas temos muitos pecuaristas,sim!

O rebanho bovino nacional aumentou em 2021, segundo pesquisa do IBGE, chegando a 224,6 milhões de cabeças de gado. Porém, parece que em outubro houve uma diminuição no mesmo número. Como funciona isso, Teka?

Estamos vivendo uma inversão no ciclo pecuário. Isso é cíclico em nossa atividade. Quando o preço da arroba e do bezerro desvalorizam, os pecuaristas descartam as fêmeas e há uma redução natural no rebanho. Quando os preços voltam a valorizar, especialmente do bezerro, os pecuaristas começam a reter as fêmeas para reprodução, para fazer mais bezerros, e o rebanho volta a subir. Isso é natural.. O mais importante é olhar o avanço em produzir mais usando cada vez menos área. Veja este dado apresentado recentemente pelo Maurício Nogueira, da Athenagro, uma das principais consultorias do setor: incluindo toda a produção agrícola e pecuária, a produtividade média de cada hectare cultivado no Brasil será de 5,2 toneladas em 2022, o dobro das 2,6 toneladas por hectare registradas 20 anos atrás. Quer dizer, não é necessário multiplicar a área destinada à agricultura e à pecuária para seguir crescendo.

Em termos de sustentabilidade, como está a pecuária brasileira?

Quero destacar o avanço da ILPF, Integração Lavoura Pecuária Floresta, que aproveita ao máximo a capacidade produtiva de área, com práticas preservacionistas, que recuperam o solo ao longo do tempo, reduzem o uso de produtos químicos e de recursos naturais como a própria água, proporcionando maior bem estar animal e produtividade. É quando a sustentabilidade não é apenas ambiental, mas também social e econômica, a medida que gera nova oportunidade de renda e de emprego no campo.

Você acaba de participar da SIAL*, grande evento mundial sobre alimentos. O que viu de interessante para o nosso país e para o agro?

O que chama atenção toda vez que tenho essas relações internacionais é a grande demanda por alimentos. O mundo quer comprar do Brasil, temos um universo imenso ainda a explorar no comércio exterior.

Como pecuarista, fazendeira que é, qual sua opinião e avaliação sobre a pecuária de baixo carbono? É possível? Já começou no Brasil?

A agropecuária tem diversas formas de reduzir seu impacto ambiental e suas emissões de gases que causam o efeito estufa, um deles é com uso mais eficiente de fertilizantes, por exemplo. Cada vez mais se usa a fixação biológica de nitrogênio, uma tecnologia que reduz esse impacto. Outro ponto importante é a questão de restauração de áreas com florestas porque você pode ter uma propriedade no Brasil que tem um pouco de emissão de carbono seja por fertilizante ou seja pela pecuária, que emite metano, mas ao mesmo tempo equilibrar o balanço e sequestrar carbono com a área de floresta daquela propriedade. Agora, para que isso aconteça, os mecanismos financeiros precisam avançar e essa é ainda uma discussão global. A Sociedade Rural Brasileira está com um Grupo de Trabalho de Mensuração de Carbono, que reúne pesquisadores de pelo menos cinco unidades da Embrapa, FGV, Insper, Biofílica, SBC, IBRA e Visiona. Estamos conhecendo os estudos de grandes pesquisadores, o Brasil está muito avançado nisso, mas novamente precisamos de boa articulação internacional para validar esses estudos para que essa mensuração do carbono considere a agropecuária nos trópicos, que possui parâmetros totalmente diferentes do Europeu.

Fala-se muito na grande responsabilidade do agronegócio para alimentar o mundo, no combate à insegurança alimentar. Como você e a SRB vêem isso?

Vejo isso todo dia. O mundo quer comprar do Brasil. Estive em uma Missão aos Países Árabes no primeiro semestre e a preocupação com a insegurança alimentar é muito grande, principalmente depois deste cenário de guerra. Portanto o dado da FAO, que mostra que até 2050 a produção de alimentos precisará aumentar 61% para atender um número crescente da população mundial, é uma realidade e o Brasil é estratégico para a segurança alimentar do planeta.

Qual seria o seu recado para aqueles que não conhecem a pecuária, a população urbana, que vive nas cidades, em termos da relevância do setor e da sua participação na vida de todos?

O pecuarista e o produtor rural em geral são profissionais muito responsáveis, trabalham semeando a terra e produzindo alimentos. É o maior preocupado com as boas práticas ambientais, afinal seu sustento vem da terra, depende do clima, da água e de toda biodiversidade. Portanto, meu recado é: procure se aproximar do campo, conhecer as atividades dos produtores rurais, acreditem na pesquisa e na ciência, valorizem a Embrapa e o grande patrimônio do Brasil que é o #Agro!

*Sobre a SIAL: A SIAL Paris é considerada uma das maiores feiras dedicadas à alimentação do mundo. Trata-se de uma exposição do setor alimentício que em 2022 voltou ao presencial. Recebeu mais de 200 países que levaram entre 15 e 19 de outubro seus fornecedores de alimentos, varejistas, compradores, além de formadores de opinião e buscadores de tendências a fim de nutrir seus negócios.
A SIAL Paris teve sua primeira edição realizada durante a Semana Internacional da Alimentação em 1964. Na época, reuniu especialistas e entusiastas de 26 países. Hoje, o evento faz parte do calendário alimentar mundial e movimenta Paris no mês de outubro.

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Foto: Arquivo pessoal