O que você está buscando?

07/11/2022

É preciso intensificar a proteção social para o combate da fome no Brasil

FAO Brasil trabalha em colaboração com lideranças de diferentes setores para diminuir os problemas de insegurança alimentar e desnutrição

No mês de outubro, duas datas são importantes para que a sociedade civil, o poder público e a população em geral reflitam sobre a importância da garantia dos direitos de segurança alimentar. No dia 16, é celebrado o Dia Mundial da Alimentação e no dia 21, o Dia Nacional da Alimentação na Escola. Infelizmente, em função da situação da fome no Brasil não é motivo de comemoração.

Em 2022, 33,1 milhões de pessoas não têm o que comer. Os dados são do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, já noticiado aqui no Entre Solos. Para saber o que vem sendo feito para diminuir os problemas relacionados à fome e à insegurança alimentar, conversamos com o representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala.

Como a FAO Brasil analisa a situação da fome no país?

Vemos no Brasil um aumento no número de pessoas com fome, e a FAO olha com atenção para estes dados. Um ponto que vale destacar, é que esse aumento está diretamente relacionado ao fato de que as pessoas sofrem de forma desproporcional com os impactos da crise econômica derivada da pandemia de covid-19. E isso não só no Brasil, mas em todo o mundo.

Mesmo que no país o auxílio emergencial tenha sido oferecido pelo Governo, muitas famílias perderam seus empregos ou ficaram impossibilitadas de trabalhar no mercado informal e foram levadas à situação de extrema pobreza, e a perda do poder de compra impacta diretamente o acesso a alimentos não apenas em quantidade, mas também em qualidade.

Agora precisamos traçar um plano de resposta para o futuro com comprometimento de todos os atores da cadeia, incluindo governos a nível federal, estadual e municipal, sociedade civil, setor privado, entre outros. O Brasil tem programas importantes de proteção social como o Auxílio Brasil, mas eles precisam ser ampliados. Será realmente difícil acabar com a fome, mas a partir de experiências anteriores, acreditamos que o país tem as ferramentas e conhecimento necessários para alcançar este objetivo.

De que forma a FAO tem contribuído para o combate à fome e qual o impacto dessas ações para a população brasileira?

A FAO trabalha em estreita colaboração com governos em diferentes setores, seja federal, estadual e/ou municipal, e com atores-chave para a transformação dos nossos sistemas agroalimentares a partir das três dimensões da sustentabilidade: social, econômica e ambiental. No que consiste ao âmbito da FAO, pode-se dizer que a organização é composta por uma série de “Fs” que simbolizam o amplo espectro de temas cobertos em cada país. Em inglês, o primeiro “F” diz respeito à palavra Food, para indicar o combate à fome e a todas as formas de desnutrição. O segundo “F” é a de Forests, denotando a responsabilidade da FAO com as florestas, de combater o desmatamento em áreas protegidas. O terceiro “F” de Fisheries indica a importância da promoção da aquicultura e da pesca sustentáveis. O quarto “F”, de Fire, indica a missão de combater os incêndios em áreas florestais. E por fim, o quinto “F”, já em português, diz respeito aos temas fundiários. Acabar com a fome perpassa toda a cadeia agroalimentar, e a FAO atua frente a estes diferentes níveis para uma resposta eficiente à população.

Como a população, sociedade civil e instituições privadas podem contribuir para projetos desenvolvidos pela FAO Brasil para erradicar a fome?

No dia 16 de outubro celebramos o Dia Mundial da Alimentação, e é comum dizermos que todos têm um papel a cumprir, independente do setor que representam. No caso destes 3 setores citados por você, a população pode consumir de forma mais consciente e responsável os alimentos, valorizar a produção de pequenos produtores, reduzir o desperdício de alimentos, isso para citar algumas coisas. Já a sociedade civil cumpre um papel fundamental como mediadora entre as autoridades governamentais e as pessoas mais vulneráveis.

Além disso, alguns projetos que conhecemos e que desenvolvem ações de capacitação em nutrição para crianças e adultos, têm um impacto social, econômico e ambiental formidável. Por fim, as empresas privadas devem ter como objetivo criar mercados verdadeiramente inclusivos com modelos de negócios que respeitem os direitos humanos, promovam o trabalho decente e a igualdade de gênero, valorizem a responsabilidade e respeitem o meio ambiente.

Muitas crianças em idade escolar vivem situações de insegurança alimentar no Brasil. Iniciativas para mudar essa realidade são prioridade para a FAO Brasil?

Sem dúvida. Através do programa de cooperação Brasil-FAO, trabalhamos com a América Latina e com o Caribe, a alimentação sob a ótica da alimentação escolar, uma importante política social que garante a alimentação para os estudantes, apoia a construção de ambientes escolares saudáveis, melhora a qualidade da educação, garante o direito humano à alimentação e ajudam a alcançar diferentes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é o maior programa desse tipo na região da América Latina e do Caribe, e é considerado uma referência regional e mundial. Todos os dias letivos, os 41 milhões de estudantes brasileiros têm acesso a alimentos frescos, saudáveis e nutritivos, boa parte deles adquiridos da agricultura familiar local.

Além disso, esses programas implementam ações de educação alimentar e nutricional, que são muito importantes para fomentar hábitos de consumo saudáveis e sustentáveis nas novas gerações.

Apesar do Brasil ser rico em recursos naturais e produção de alimentos, existe muita pobreza em áreas rurais. Como a FAO tem trabalhado para implementar medidas para que esta população se alimente bem?

Embora sejam um dos alicerces do nosso sistema agroalimentar, os pequenos agricultores estão muitas vezes presos em ciclos de pobreza e insegurança alimentar e excluídos de oportunidades em sistemas dominados por grandes produtores e varejistas. Assim como fizemos o chamado durante o Dia Mundial da Alimentação, se nos comprometermos a garantir ações para não deixar ninguém para trás, precisamos transformar nossos atuais sistemas agroalimentares, para oferecer oportunidades iguais a todos os produtores e ajudar os pequenos agricultores a acessar novos mercados. Isso também significa investir na transformação rural.

Quais devem ser as ações futuras e quais projetos ainda devem ser implementados pela FAO no Brasil, a longo prazo?

Neste e nos próximos anos, pretendemos continuar atuando para o fortalecimento da agricultura familiar; o desenvolvimento de novos modelos de serviços de assistência técnica, pesquisa e inovação agropecuária; para a melhora dos níveis de segurança alimentar e nutricional da população; a mitigação dos efeitos da degradação dos recursos naturais, principalmente florestas, biodiversidade e recursos hídricos; entre outras atividades.

ODS envolvidos nessa notícia:

Principais fontes

Foto: Arquivo Pessoal