A Conferência das Nações Unidas Sobre Biodiversidade (COP 15) ocorre entre os dias 7 e 19 de dezembro de 2022 em Montreal, no Canadá. Nesse evento, governos de todo o mundo se reúnem para discutir um novo conjunto de metas que irão orientar ações e iniciativas globais até 2040. O foco é preservação e restauração da biodiversidade. 

Por sermos considerados o país de maior biodiversidade do planeta, nossa responsabilidade aumenta diante dessas discussões. Preservar espécies biológicas e manter os recursos naturais para as gerações presentes e futuras deve ser prioridade no compromisso com o alcance dessas metas.

Assim, convidamos você a refletir sobre as discussões da COP 15 como o momento em que precisamos direcionar nossas ideias e iniciativas para a revitalização das espécies de seres vivos que compõem nosso patrimônio de modo a contribuir com toda a sociedade. Nesse contexto, faz-se importante discutir também o papel da agricultura na sustentação da diversidade biológica no Brasil, tendo em vista a sua essencialidade na promoção da segurança alimentar global. 

Por que a COP 15 é tão importante para o Brasil?

De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), 1.249 espécies da fauna e da flora brasileira foram categorizadas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) como ameaçadas de extinção. A última lista atualizada em de 07 de junho de 2022 foi publicada no DOU pela Portaria MMA nº 148. 

Todos nós sabemos que essas ameaças provêm, principalmente, da atividade humana. Mas sabemos também que nossa existência depende de um planeta saudável, ou seja, biodiverso, capaz de manter a água que consumimos e o ar puro que respiramos, clima adequado para manutenção da água, dos animais, das plantas e para abastecimento de alimentos para toda sua população.

Com isso, algumas metas para 2030 foram destacadas pelas Nações Unidas para serem discutidas no evento. Dentre aquelas que possuem relação direta com as atividades praticadas na agricultura temos: a redução, em pelo menos metade, os nutrientes que se perdem para o meio ambiente e em pelo menos dois terços as substâncias químicas, em particular os pesticidas, prejudiciais à diversidade biológica e; a contribuição para a redução de pelo menos 10 gigatoneladas de dióxido de carbono por ano, a fim de evitar causar efeitos negativos dos impactos das mudanças climáticas na diversidade biológica.

As discussões da COP 15 têm o objetivo de interromper e reverter a perda da natureza, de acordo com as disposições do  Acordo do Clima de Paris de 2015 . Assim, em Montreal será adotado, essencialmente, um plano global para salvar a biodiversidade do planeta que vem diminuindo em ritmo alarmante.

A agricultura é essencial para a biodiversidade

Sem dúvida, a agricultura tem um papel fundamental na preservação das espécies de animais e vegetais do nosso ecossistema. Ainda mais em um país megabiodiverso como o Brasil onde as principais atividades econômicas estão atreladas à produção agrícola. 

Vários dos desafios propostos pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) podem ser abordados pelo tema da biodiversidade. Um deles é o ODS 15 onde objetiva-se proteger, restaurar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, travar e reverter a degradação dos solos e travar a perda da biodiversidade.

Temos a responsabilidade de preservar o meio ambiente e ao mesmo tempo superar os problemas da insegurança alimentar, produzindo alimentos para uma população que cresce a cada ano. 

A solução está na transição para uma agricultura cada vez mais sustentável. Com isso, o caminho para minimizar os impactos negativos sobre a biodiversidade é redesenhar os sistemas agrícolas por meio de abordagens agroecológicas unidas a outras abordagens inovadoras a fim de aumentar a produtividade e ao mesmo tempo em que se preserva os recursos naturais.  

Essa transição reconhece o papel da ciência e da tecnologia na preservação da biodiversidade, incluindo o uso de microrganismos para o controle biológico de pragas, doenças e manutenção da biodiversidade do solo, bem como uso eficiente da água, decomposição de resíduos e reciclagem de nutrientes, manutenção dos polinizadores, regulação do clima, controle da erosão, sequestro de carbono, entre outras atividades necessárias para uma agricultura mais produtiva e resiliente.

Contudo, não podemos deixar de lado os conhecimentos tradicionais para a manutenção da biodiversidade no país. Algumas organizações como a The Nature Conservancy (TNC) atuam na preservação ambiental bem como no bem-estar de povos e terras indígenas, extrativistas e agroextrativistas, e de comunidades tradicionais por meio do incentivo à gestão territorial em bases ambientalmente responsáveis, promovendo a conservação efetiva da biodiversidade e sociodiversidade.

A segurança alimentar depende da nossa biodiversidade 

Outro objetivo de  desenvolvimento sustentável da ONU é acabar com a fome, sendo mais especificamente descrito pelo ODS2, fome zero e agricultura sustentável. A diversidade de produtos agrícolas que vão desde hortaliças, frutíferas, cereais, oleaginosas, incluindo plantas alimentícias não convencionais e produção animal como principal fonte de proteínas como carne, leite e ovos. 

Embora ainda soframos com desafios de distribuição de alimentos no país e no mundo, o Brasil consegue produzir de forma diversificada e em larga escala. Temos assim o potencial de abastecer nossa população reconhecendo os potenciais benefícios nutricionais de diversos alimentos e sistemas alimentares e a necessidade de reduzir as pressões impulsionadas pela demanda global, garantindo a segurança alimentar em todas as suas dimensões.