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10 de Outubro de 2021

Segurança alimentar sob ameaça

A pandemia da Covid-19 intensificou a insegurança alimentar no mundo e evidenciou a necessidade de adoção de práticas cada vez mais sustentáveis 

No mundo globalizado em que vivemos, marcado por mudanças e necessidades cada vez mais urgentes, reside um desafio: o crescimento populacional e a sua demanda por alimentos. 

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a população mundial chegará a quase 10 bilhões de pessoas em 2050, e aproximadamente 70% delas viverão em centros urbanos. A ONU também prevê que a pressão da demanda fará com que os preços dos alimentos continuem a subir. Com isso, a agricultura deverá produzir nas próximas décadas mais comida do que nos últimos 10.000 anos de existência. Tudo em nome da segurança alimentar. 

Diante do crescimento de demanda e esgotamento de recursos naturais, os debates se intensificam, mas convergem para um mesmo propósito: aumentar a eficiência da agricultura sustentável, economizando recursos e atingindo o maior número de pessoas possível.

O que é segurança alimentar?

A segurança alimentar diz respeito ao direito de todos terem acesso regular e permanente a alimentos básicos de qualidade. Esse termo começou a ser utilizado na Europa durante a Primeira Guerra Mundial em decorrência do aumento da fome no período. Desde então, a segurança alimentar se tornou uma questão recorrente e promoveu a criação, em 1945, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura – FAO (da sigla em inglês).

Com o objetivo de posicionar a alimentação como tema estratégico mundial, a FAO junto à ONU, proclamou em 1948 a Declaração Universal dos Direitos Humanos, na qual reconhecia a alimentação como um dos direitos humanos básicos.

Como anda a segurança alimentar no mundo?

A segurança alimentar tem sido lentamente ameaçada desde 2014 e a pandemia da Covid-19 intensificou ainda mais essa situação. O relatório da FAO – O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2021 – divulgado em 2021, mostra que o número de pessoas que não tinham acesso a uma dieta saudável em 2020 aumentou, em um ano, em 320 milhões e alcançou 2,37 bilhões de pessoas. Isso significa que quase uma em cada três pessoas no mundo não tinha acesso a uma dieta balanceada.

Dessas, 811 milhões de pessoas enfrentaram a fome em 2020 – situação resultante de escassez crônica de alimentos ou, em casos graves, falta de alimentos. Enquanto, o índice de desnutrição que permanecia estável por cinco anos, cresceu em 1,5% – atingindo um nível de cerca de 9,9%.

Os dados do relatório da FAO enfatizam uma recessão sem precedentes que não vivíamos desde a Segunda Guerra Mundial. 

A insegurança alimentar aumentou no Brasil

A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan) realizou nos últimos meses de 2020 a pesquisa: Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil e identificou que, pelo menos, 116,8 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar e 19,1 milhões passam fome. A segurança alimentar no Brasil que vinha crescendo, teve um retrocesso que nos trouxe de volta aos patamares de 2004.

Acesso a alimentos não é o mesmo que segurança alimentar

A segurança alimentar vai muito além do acesso a qualquer alimento. Uma criança pode comer um prato de arroz todos os dias, mas isso não significa que ela receberá os nutrientes de que seu organismo necessita para se desenvolver. Ou seja, ela se encontra em um contexto de insegurança alimentar.

De acordo com a FAO, a segurança alimentar existe quando todas as pessoas, em todos os momentos, têm acesso físico, social e econômico a alimentos suficientes, seguros e nutritivos que atendam às suas necessidades dietéticas e preferências alimentares para uma vida ativa e saudável.

A segurança alimentar ainda deve contemplar práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis.

ODS2 – Fome zero e agricultura sustentável

A preocupação com a insegurança alimentar está claramente evidenciada no ODS2: Fome Zero e Agricultura Sustentável. O ODS2 pretende acabar com todas as formas de fome e má-nutrição até 2030, de modo a garantir que todas as pessoas tenham acesso suficiente a alimentos nutritivos. 

Para que possamos alcançar esse objetivo, precisamos enfrentar as quatro dimensões da segurança alimentar:

  • Estabilidade no acesso aos recursos necessários para produção de alimentos;
  • Disponibilidade de alimentos suficientes;
  • Distribuição de alimentos suficientes para uma dieta saudável;
  • Utilização dos alimentos de forma adequada;

É claro que as ações que se relacionam ao combate à fome transcendem as fronteiras da produção de alimentos e dependem de uma reorganização econômica. A Covid-19 evidenciou o quão interligadas estão as pessoas, as comunidades e a economia como um todo. A expectativa é que, a partir do contexto da crise, possamos nos mobilizar em direção a um modelo mais sustentável e preparado para gerir riscos com maior eficiência. 

Novo modelo econômico de baixo carbono poderá virar a chave 

Estudo liderado pelo WRI Brasil e pela New Climate Economy revela que o Brasil tem potencial de adoção de um novo curso econômico de baixo carbono sem provocar rupturas nos principais setores, aplicando tecnologias existentes e leis vigentes. 

O trabalho enfatiza a necessidade de estabelecimento de infraestrutura de qualidade, inovação e de implementação de medidas para o aumento da eficiência na produção agropecuária. Destaca o papel do setor agrícola – “Este estudo evidencia que em nenhum setor as vantagens de uma rápida transição para uma economia de baixo carbono são tão fortes quanto no agropecuário”. 

Além disso, apresenta uma perspectiva otimista ao mencionar que práticas sustentáveis e de baixo carbono podem gerar um crescimento significativo do PIB, com ganho total acumulado de R$ 2,8 trilhões até 2030 em relação à trajetória atual. 

Principais fontes

FAO, IFAD, UNICEF, WFP and WHO. The State of Food Security and Nutrition in the World 2021. Transforming food systems for food security, improved nutrition and affordable healthy diets for all. Rome, 2021.

Nosratabadi S, Khazami N, Abdallah MB, Lackner Z, S Band S, Mosavi A, Mako C.
Social Capital Contributions to Food Security: A Comprehensive Literature Review.

Foods. 2020 Nov 12;9(11):1650. 

Sade N, Peleg Z. Future challenges for global food security under climate change. Plant Sci. 2020 Jun; 295:110467.  

 

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