Sabemos que não podemos viver sem alimentos, logo, a agricultura é essencial para a manutenção da nossa existência e da qualidade de vida que temos hoje. Mas sabemos também que a nossa produção de alimentos é fortemente afetada pelas oscilações do clima. Fato que nos leva a repensar na forma com que produzimos esses alimentos para abastecer a população ao mesmo tempo em que nos empenhamos em reduzir os impactos das alterações climáticas.

Ultimamente, temos presenciado, com frequência, acontecimentos decorrentes de efeitos provocados pelo aquecimento global, como ondas intensas de frio ou calor, queimadas, enchentes e outros desastres, que chegam a ser catastróficos.

Do ponto de vista ambiental, as alterações climáticas têm o potencial de prejudicar a flora e a fauna, reduzindo drasticamente a biodiversidade do planeta. Já em termos socioeconômicos, essas mudanças do clima agravam os problemas de segurança alimentar e acesso à água potável, além de afetarem negativamente a agricultura, principalmente em locais onde ela é a principal fonte de renda e subsistência de povos e comunidades tradicionais. 

Mas o que fazer diante desse cenário? Como vamos continuar produzindo alimentos sabendo que estamos sofrendo impactos com as mudanças do clima? A resposta que temos é que fica cada vez mais evidente e necessária a adoção de práticas agropecuárias que contribuam com a contenção e adaptação da crise climática e sustentabilidade da produção agropecuária. 

A atividade humana é uma das principais responsáveis pelo aumento da temperatura do planeta

De acordo com o Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), apesar dos esforços para reduzir os riscos causados pelo aquecimento global, ele vem provocando perturbações perigosas na natureza e afetando bilhões de pessoas em todo mundo, principalmente aquelas menos capazes de lidar com esse problema. 

Segundo o relatório, a maioria da comunidade científica do clima chegou a um consenso de que a atividade humana é uma das principais causas do aumento da temperatura média global. Esse aumento tem sido causado pelo aumento na emissão de gases de efeito estufa (GEE), especialmente CO2. Dentre as principais práticas que resultam em maior emissão de GEE estão o uso de combustíveis fósseis (derivados de petróleo, carvão mineral e gás natural), atividades industriais e agropecuárias, desmatamento e o descarte de lixo sólido.

Em sintonia com o que dizem os pesquisadores do clima, para chamar a atenção da população brasileira para as mudanças climáticas foi criado o Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas . Essa data é celebrada todos os anos em 16 de março, desde 2011, viabilizando debates e mobilizações em torno de alternativas mais sustentáveis para as mais diversas áreas, incluindo a agricultura.

Desenvolvimento agrícola sustentável e o aquecimento global

A agricultura sustentável pode ser uma grande aliada na redução dos problemas relacionados ao aquecimento global. Um solo bem manejado e preservado, além de sequestrar carbono, é essencial para o desenvolvimento das plantas. Com isso, adotar práticas de conservação de solo, como o plantio direto, rotação de culturas, práticas agroecológicas, cobertura verde, regeneração de pastagens e sistemas integrados podem contribuir consideravelmente com a redução dos impactos causados pela mudança do clima. 

São medidas que contribuem com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 13 das Nações Unidas, ação contra a mudança global do clima, que aborda a necessidade de se adotar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos.  

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem buscado evidenciar a dimensão dos desafios impostos pelas mudanças climáticas propondo estratégias e inovações tecnológicas para a promoção do desenvolvimento sustentável. O caminho é investir em pesquisa e planejamento estratégico para mitigar as emissões de GEE e garantir a adaptação dos agroecossistemas do país. 

Estratégias do agro brasileiro contra a mudança global do clima

Várias estratégias vêm sendo adotadas pela agricultura no nosso país de maneira bem-sucedida. Temos um plano robusto e operante, criado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), conhecido como plano da Agropecuária de Baixo Carbono (ABC). O Plano ABC superou as metas quando executado entre 2010 e 2020 ao beneficiarem 52 milhões de hectares com tecnologias sustentáveis de produção, suas ações evitaram a emissão de 170 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera. Devido ao sucesso na atuação, as instituições e órgãos governamentais decidiram dar continuidade com o Plano ABC +, com o objetivo expandir sua atuação para mais 72 milhões de hectares em 9 anos.

Uma das tecnologias incentivadas pelo Plano ABC é a fixação biológica de nitrogênio, onde utiliza-se microrganismos para fixar nitrogênio no solo e torná-lo disponível para as plantas   reduzindo a necessidade de fertilizantes de origem fóssil. A prática é adotada em 80% da área de soja plantada no país.  Tecnologias como essas promovem ganhos ambientais, facilitando o sequestro de carbono, reduzindo custos e aumentando a produtividade. 

Ferramentas genéticas também aparecem como peça-chave para enfrentar desafios das mudanças climáticas. Em regiões onde a escassez de água é maior, o uso de plantas tolerantes à seca, desenvolvidas por meio da biotecnologia, são capazes de suportar esse tipo de estresse, assegurando sua produtividade.

Além das práticas e tecnologias modernas, devemos abordar também a inclusão de comunidades locais e os povos indígenas, bem como o reconhecimento dos direitos inerentes desses povos, como essenciais para uma adaptação florestal bem-sucedida. De acordo com o relatório do IPCC, essa inclusão é essencial para trazer benefícios ambientais, contribuindo também para a nutrição, saúde e biodiversidade.