A pecuária brasileira possui emissão reduzida de carbono
A predominância da produção em pastagens é uma característica da pecuária no nosso país que traz vantagens ambientais
A pecuária é sempre uma preocupação da população devido aos elevados volumes de emissão de gases do efeito estufa (GEE) que essa atividade resulta, principalmente quando sabemos que precisamos produzir alimentos ao mesmo tempo que temos que pensar na contenção da crise climática e conciliar a produção com a preservação ambiental.
O gás metano (CH4) resultante do processo digestivo de ruminantes é o centro das atenções de muita gente devido ao seu potencial para elevar a temperatura global num curto espaço de tempo. Segundo pesquisas realizadas, seu potencial de elevação da temperatura global em 20 anos, é 80 vezes superior ao do CO2 – no horizonte de 100 anos, é 28 vezes maior. Além disso, o desmatamento da floresta amazônica, para extração e venda de madeira de modo a abrir espaço para pastagens e lavouras, também colabora indiretamente para as emissões de carbono pelo setor agropecuário.
Nos últimos anos, várias iniciativas vêm sendo tomadas, incluindo um projeto capaz de calcular emissões de metano da pecuária. O estudo conta com uma calculadora capaz de medir as emissões de carbono durante todo o processo de produção. A ideia é traçar estratégias e modelos de negócios com tecnologias de baixo carbono na produção de carne e leite nacionais e ainda promover a sustentabilidade através da certificação das emissões de carbono que forem evitadas. Além disso, tem como objetivo a indicação de mecanismos de incentivo que estimulem investimentos na redução de emissões.
Plantio de árvores podem ajudar obter carbono zero na pecuária leiteira
Um estudo realizado recentemente avaliou o plantio de árvores como uma estratégia de compensação da emissão de GEE e indicou que isso pode ser utilizado para o desenvolvimento de uma pecuária mais sustentável e voltada à descarbonização.
O trabalho que foi conduzido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e publicado na internacional Frontiers in Veterinary Science apontou que, para se obter o leite carbono zero, são necessárias 52 árvores por vaca nos sistemas intensivos e 33 nos sistemas extensivos (baixo nível tecnológico) de produção.
De acordo com os pesquisadores, a pecuária brasileira é realizada principalmente em pastagens e isso traz uma vantagem para o nosso país. Sendo os bovinos criados a pasto, a necessidade de árvores para a compensação das emissões de GEE é menor, porque na contabilização do balanço de carbono, o sequestro de carbono do solo, que é positivo nos dois sistemas testados, contribui na compensação das emissões.
O estudo identificou também um efeito de economia de terra, relacionado a tecnologias adotadas pelo sistema intensivo. Embora a necessidade de um número maior de árvores por vaca do que nos sistemas extensivos, o sistema tecnológico é mais produtivo permitindo incrementos sustentáveis na produção total em uma mesma área, evitando a abertura de novas áreas para a pecuária. Uma vez que a área é poupada pela intensificação no manejo de pastagens, fica disponível para reflorestamento com árvores comerciais.
Iniciativas de incentivo à baixa emissão de carbono
Embora a pecuária brasileira já tenha característica de reduzida emissão de GEE devido à predominância das pastagens nessa atividade, várias iniciativas são adotadas para que o processo de emissão de carbono seja ainda menor. Como parte do Plano ABC, a recuperação de pastagens degradadas, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) e o tratamento de dejetos animais são tecnologias que já provaram sua eficiência na redução de GEE na atmosfera. Essas ações melhoram a produtividade agropecuária, otimizam o uso da terra e geram maiores oportunidades para quem trabalha no setor.
Com isso, essas iniciativas que contribuem diretamente com, pelo menos, três dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), o ODS 2 (Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável), ODS 8 (Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos) e ODS 13 (Adotar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos).
Principais fontes
Principais fontes:
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Estudo comprova que pecuária de leite no Brasil gera baixa emissão de carbono em sistemas com árvores
Disponível em: https://www.unep.org/explore-topics/green-economy/why-does-green-economy-matter Acesso em 21 mar. de 2023.
Oliveira PPA, Berndt A, Pedroso AdF, Alves TC, Lemes AP, Oliveira BA, Pezzopane JRM and Rodrigues PHM (2022) Greenhouse gas balance and mitigation of pasture-based dairy production systems in the Brazilian Atlantic Forest Biome. Front. Vet. Sci. 9:958751. doi: 10.3389/fvets.2022.958751
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