A irrigação está no nosso dia a dia
O professor e pesquisador Eusímio Fraga chama a nossa atenção para perceber que tanto os alimentos que a gente consome quanto o gramado do futebol que a gente assiste são irrigados!
A água está no centro do desenvolvimento econômico e social do mundo. É vital para manter a saúde, gerar energia, empregos, manejar o meio ambiente e cultivar alimentos. As mudanças climáticas e a crise hídrica, porém, ameaçam a disponibilidade desse recurso. Na produção de alimentos, para minimizar esse problema e distribuir água de forma uniforme para as lavouras, a irrigação é fundamental. A estratégia, além de minimizar questões relacionadas ao déficit hídrico, também é ecologicamente indicada pois reduz o consumo e conserva a água. Doutor em irrigação, Eusímio Felisbino Fraga, professor e pesquisador da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), compartilha seus conhecimentos sobre o tema e nos revela as principais tendências sobre o assunto.
Os sistemas de irrigação ajudam a economizar e conservar água?
A irrigação está no nosso dia a dia, seja nos gramados de campos de futebol ou quando consumimos alimentos, produzidos em grande parte sob irrigação. As pesquisas da FAO mostram que 50% da população mundial consome produtos agrícolas cultivados em áreas irrigadas. E, quando falamos de sistemas de irrigação, é importante dizer que existem diversas tecnologias. Cada uma oferece diferenciais na eficiência de economia de água. Dependendo do sistema de irrigação, a economia de água pode variar entre 5 e 45%. No geral, os sistemas de irrigação direcionados, como a microaspersão e o gotejamento, conseguem gerar maior economia de água.
Qual é a taxa de adoção de sistemas irrigados no Brasil?
Se considerarmos o consumo total de água na agricultura, de acordo com estudo da Agência Nacional de Águas (ANA), 92,5% provêm do ciclo hidrológico local (“água verde”, das chuvas e do solo) e 7,5% como contribuição adicional via irrigação (“água azul”, captada em mananciais superficiais e subterrâneos). Atualmente, temos cerca de 8 milhões de hectares irrigados no Brasil e as projeções indicam a incorporação de 4,2 milhões de hectares irrigados até 2040, o que representa 7% do potencial total.
A agricultura é mesmo a atividade que mais gasta água?
A agricultura é a principal usuária de recursos hídricos. Mas no sistema agrícola, ela não é consumida, ela circula, entra num ciclo. Explicando melhor: ela é inserida no sistema agrícola pelas chuvas ou irrigações, e ao mesmo tempo, retorna para o ambiente. Basicamente, a água evapora do solo para a atmosfera. Além disso, se movimenta das camadas superficiais às mais profundas do solo, reabastecendo o lençol freático. E a transpiração, que representa a parcela da água absorvida pela planta, volta para a atmosfera em forma de vapor d’água, através das folhas das plantas. Por exemplo, na cultura da soja, se considerarmos uma produtividade média de 4 mil kg/ha, vamos usar, em média, 4,5 milhões de litros de água durante todo o seu ciclo. Porém, a água efetivamente retirada da bacia hidrográfica é de apenas 680 litros, ou seja, 0,01% de toda a água utilizada pela cultura. O restante vem do ciclo da água que ocorre junto às plantas.
Como se pode comparar o consumo de água das cidades com o da agricultura?
Um estudo realizado pela Agência Nacional de Águas (ANA) mostra que o Brasil consome 743,5 m³/s nos sistemas de irrigação, enquanto o abastecimento urbano tem um consumo de 101,1 m³/s. Mas é importante dizer que o consumo indisponibiliza a água no tempo e no espaço. Ou seja, o que se consome também retorna ao ciclo da água, ainda que em um outro momento e de uma outra forma. Na agricultura, a água retorna ao ambiente por meio da evapotranspiração e penetração no solo, enquanto no ambiente urbano, retorna em forma de esgoto.
Quais são as tendências das tecnologias de irrigação para os produtores?
Nas últimas décadas, tivemos muitos avanços em engenharia de irrigação, disponibilizando para os agricultores sistemas eficientes e de fácil operação. Atualmente, estamos presenciando a integração de sistemas de irrigação com monitoramento e gestão para a tomada de decisão do momento ideal de uso da água nas lavouras. A maior tendência desse momento é empregar a irrigação de precisão associada, por exemplo, à IoT (Internet das Coisas), usando volumes reduzidos e evitando o desperdício da água.
No Brasil os padres jesuítas, na antiga fazenda Santa Cruz, no estado do Rio de Janeiro, por volta de 1589, podem ter sido os pioneiros na implantação de sistemas deirrigação para fins agrícolas.
Eusímio Fraga, Professor