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18/03/22

A energia que move a produção agrícola 

Produção de alimentos e autossuficiência energética tem grande potencial de crescimento

Todos nós sabemos o quanto a energia é essencial para a manutenção da vida. Ela é vital para atender às necessidades básicas da humanidade, assim como os alimentos que consumimos.

Na agricultura, a energia também é essencial para o desempenho da produção. Fortemente calcado em tecnologia, o setor agrícola precisa contar com acesso à energia abundante, de baixo custo e sustentável.  A energia é um recurso tão precioso no campo que, sem ela, a produtividade e a renda dos agricultores seriam limitadas, tornando inviável alimentar o país ou possibilitar crescimento da economia. Apenas para citar um exemplo, é a energia que permite ao agricultor utilizar a irrigação em sua lavoura. É também, com o uso da energia em refrigeração que é possível reduzir a perda de alimentos colhidos. Além disso, ela permite gerar mais receita por meio do processamento de alimentos, como queijos a partir do leite, farinhas ou outros produtos que consumimos. E é fácil prever que, para que a produção de alimentos acompanhe o ritmo de crescimento da população mundial, aumentaremos a demanda por energia.

A boa notícia é que o mundo caminha para encontrar soluções energéticas sustentáveis. E quando se fala em energia renovável, o Brasil sai na frente.

 

Como anda a eficiência energética do campo?

Apesar da elevação nos custos nas fazendas e da quebra de produção gerada por problemas climáticos, o agronegócio brasileiro teve crescimento acima de 10% em 2021, conforme dados Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Agrícola), da Esalq/USP e CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).  E a perspectiva é que a evolução não pare por aí. O Plano Decenal de Expansão de Energia 2019-2029 (PDE), da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estima crescimento de desempenho do agronegócio em 2,9% ao ano até 2029.

No entanto, o crescimento é condicionado ao uso de energia no campo. O Relatório “Energy, Agriculture and Climate Change”, elaborado pela Organização das Nações Unidas pela Alimentação e Agricultura (FAO), revelou que o agronegócio global é responsável pelo consumo de cerca de 30% da energia mundial.

Já no Brasil, de acordo com o Atlas da Eficiência Energética – Brasil (2020), o setor agrícola possui uma participação pequena no consumo total de energia do país, quando comparado a outros setores. Em 2019, o consumo energético pela agricultura foi de 5,4% do total, pouco significativo quando comparado aos setores de transporte e industrial, que chegaram a 34,6% e 32,1%, respectivamente.

Mas sempre é possível melhorar. Quando falamos em sustentabilidade na produção agrícola, a ideia é produzir de forma ambientalmente responsável e economicamente viável. A não dependência por fontes esgotáveis de energia é um dos caminhos para se vencer esse desafio. No entanto, quantidades significativas de combustíveis fósseis ainda são utilizadas na produção de insumos e em máquinas agrícolas na cadeia de produtiva de alimentos. Por isso, para reduzir a necessidade desses combustíveis, sistemas integrados de produção com aproveitamento de resíduos e geração de energia crescem cada vez mais no setor.

 

 

Fontes alternativas são bem-vindas nas lavouras

O Brasil é um dos países de referência no uso de fontes renováveis em sua matriz elétrica. Os últimos dados agregados sobre as matrizes elétrica e energética do Brasil foram divulgados em 2021, com referência ao ano de 2020. Na matriz elétrica, a fonte hidráulica correspondia a 65,2%, seguida pela biomassa (9,1%), eólica (8,8%), gás natural (8,3%) e as demais.

Já a matriz energética é menos renovável, já que nesse caso considera-se qualquer tipo de geração de energia, incluindo nos combustíveis de veículos. Com isso, a mais usada é a de petróleo e derivados (33,1%), seguido por derivados de cana-de-açúcar (19,1%) e hidráulica (12,6%).

Em ambos os casos, porém, a participação da energia renovável é superior à média global. Levantamento da Agência Internacional de Energia (AIE) aponta que, em 2019, as renováveis tinham cerca de 25% de participação na matriz elétrica mundial e menos de 15% na energética. No caso brasileiro, a participação é de 83% e 46%, respectivamente.

Diante desse padrão brasileiro no setor de energia, é bem viável considerar o grande potencial de alternativas ao sistema tradicional de abastecimento de energia nas propriedades rurais. O uso de energia solar fotovoltaica, energia hídrica, biomassa e biogás obtido na decomposição de matéria orgânica representam respostas não apenas para o combate ao aquecimento global e à poluição, mas também uma forma de se investir em energia de custo mais acessível a quem produz alimentos.

 

Energia no modelo de economia circular

Na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 26) a economia circular, baseada na utilização consciente dos recursos naturais a partir da otimização dos processos de produção e de consumo foi assunto recorrente.

Na produção agrícola, esse tema não deve ser ignorado. Promover a agricultura sustentável é um dos  Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Sendo uma das suas metas, garantir sistemas sustentáveis de produção de alimentos que fortaleçam a capacidade de adaptação às mudanças climáticas até 2030. Nesse sentido, adotar um modelo circular de produção agrícola pode levar ao alcance dessa meta que, além de reduzir a emissão de GEE, permite a geração de energia a partir do aproveitamento de resíduos agropecuários.

O setor sucroenergético brasileiro é um dos melhores exemplos de economia circular na agricultura, que além de representar a matéria prima para a produção do biocombustível (etanol), tem todos os seus resíduos aproveitados, gerando um ciclo sustentável de produção. A começar pelo cultivo da cana-de-açúcar, no qual se emprega muito controle biológico para a proteção contra pragas. A palha e a vinhaça são utilizadas para proteger enriquecer o solo com nutrientes. E o bagaço também é aproveitado para produzir bioeletricidade. A palha e o bagaço também podem ser aproveitados para produzir mais etanol, processo conhecido como produção de etanol de segunda geração (etanol 2G).

Em uma das metas estabelecidas pelo Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC), mais de 38,3 milhões de metros cúbicos de dejetos animais foram tratados entre 2010 e 2019, superando a meta estabelecida pelo plano em quase nove vezes. Esses resíduos são grandes responsáveis pela geração do gás metano, um dos GEE que, quando não tratado, vai direto para a atmosfera. Além disso, com o manejo de dejetos animais é possível produzir biogás e outros combustíveis para utilização nas propriedades rurais, gerando economia de energia e reduzindo custos para o produtor.

Em entrevista à ONU News, o diretor do Escritório de Mudanças Climáticas, Biodiversidade e Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, Eduardo Mansur, comentou que inovações previstas para a atividade pecuária podem contribuir com a redução da emissão de metano, além de aproveitar a fermentação para produzir energia renovável.

 

Sistema de gestão da energia

As energias sustentáveis e vinculadas ao modelo de economia circular representam uma ótima saída em um processo de médio e de longo prazos, porém, para sobreviver em períodos emergenciais e inesperados, é importante estar sempre em dia com o sistema de gestão de energia.

Essa prática funciona por meio de uma solução tecnológica que dá ao produtor monitoramento e relatórios de forma ininterrupta, automatizada e em tempo real dos gastos. Com dados e informações precisas, produtores podem alinhar a necessidade de subsídios e escolher a alternativa mais certeira para manter o abastecimento de energia na produção agrícola e agropecuária.

 

 

O desafio global é conectar agricultores às fontes de energia para assegurar a produção sem prejudicar o meio ambiente

Na prática, como é possível gerar energia limpa e acessível na agricultura? De acordo com a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA, do inglês, International Renewable Energy Agency), o uso de energias renováveis no sistema agroalimentar pode aumentar a produtividade agrícola, promover descarbonização e melhorar a segurança alimentar.

Em 2020, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) reuniu especialistas do setor energético para discutir o uso de fontes alternativas de energia na irrigação. De acordo com um dos membros da reunião, a energia solar é um exemplo de investimento seguro que no setor agropecuário já contempla mais de 21 mil usinas de geração de fonte solar.

Finalmente, o setor que tem maior potencial de produção de energia para uso próprio é o agropecuário, sendo capaz de produzir de forma simples e eficaz, suprindo toda a demanda da propriedade. Para isso, é necessário estimular esforços de colaboração na capacitação, difusão de conhecimento e incentivo a iniciativas que atendam a esse potencial.

ODS envolvidos nessa notícia:

Principais fontes

Agência Nacional do Petróleo (ANP), Biocombustíveis, 2020. Disponível em: http://www.anp.gov.br/arquivos/central-conteudos/anuario-estatistico/2020/texto-secao-4.pdf

Atlas da Eficiência Energética – Brasil, 2020. Disponível em: https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-556/Atlas%20consolidado_08_03_2021.pdf Acesso em: 15/02/2022.

Nações Unidas Brasil. Guia para a COP26: O que é preciso saber sobre o maior evento climático do mundo, 2021. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/156377-guia-para-cop26-o-que-e-preciso-saber-sobre-o-maior-evento-climatico-do-mundo

Powering for agriculture: an energy grand challenge for development. Disponível em: https://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/57_949_commitment_PAEGC-factsheet-19oct15%20(1).pdf