A restauração da Mata Atlântica e a produção de alimentos
No mês em que celebramos o Dia Nacional da Mata Atlântica, queremos reforçar a importância da sua restauração para a agricultura
A Mata Atlântica é, sem dúvida, motivo de grande admiração por todos nós. Ela é a segunda maior área de floresta tropical do planeta, compondo também uma das maiores biodiversidades. Milhares de espécies vegetais e animais ocorrem nesse bioma que abrange 17 diferentes estados brasileiros, incluindo Rio de Janeiro e São Paulo.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Florestas (IBF), a Mata Atlântica ocupava uma área de 1.110.182 Km², e correspondia a 15% do território nacional, mas hoje, infelizmente, restam apenas 12,5% da floresta que existia originalmente.
O Dia Nacional da Mata Atlântica é celebrado em 27 de maio, data instituída pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo em 2008, com a Lei 12.795. A data faz referência a uma carta do Padre Anchieta, documento no qual descreveu, pela primeira vez, a biodiversidade das florestas tropicais nas Américas, ainda em 1560.
Contudo, essa data nos convida a refletir sobre a importância da restauração dessa floresta para a produção de alimentos e bem-estar social, principalmente daqueles que dependem diretamente dela para sua sobrevivência.
Iniciativas para recuperação da Mata Atlântica são reconhecidas pela ONU
A Organização das Nações Unidas (ONU) produziu um minidocumentário apresentando histórias de iniciativas de restauração do mundo reconhecidas como referência pelas Nações Unidas. Dentre elas está o trabalho de restauração na Mata Atlântica, mostrado no oitavo episódio da série. Mais de 360 organizações e empresas fazem parte do Pacto pela restauração da floresta. São apresentados no minidocumentário um exemplo de atuação na região da Serra da Mantiqueira, além de outras iniciativas ao longo da Mata Atlântica trinacional.
Também são destacados no episódio os trabalhos de produtores rurais, de iniciativas governamentais como Projeto Conservador das Águas de Extrema-MG, e o de ONGs como a Associação Ambientalista Copaíba, de Socorro (SP).
Regeneração natural assistida para melhor custo-benefício
No ano passado o WRI Brasil destacou o compromisso ambicioso que o Brasil possui de restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Para dar escala a essa restauração, uma técnica conhecida como regeneração natural assistida apresenta bom custo-benefício, em particular na Amazônia e na Mata Atlântica.
O instituto descreve a técnica de regeneração natural como a capacidade de um dado ecossistema de se regenerar e recuperar suas funções ecológicas com o tempo, sem intervenção humana. Já na regeneração natural assistida (RNA), a participação humana se dá no sentido de potencializar essa habilidade natural por meio de algumas intervenções.
Com foco na Mata Atlântica, o WRI mencionou também um estudo que identificou aproximadamente 740 mil hectares em processo de regeneração natural e restauração ativa. Esse estudo aponta um dos principais movimentos da restauração no bioma, o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, como um movimento para restaurar 15 Mha de terras degradadas/desmatadas até 2050.
As estratégias vão desde a capacitação de produtores até o desenvolvimento de mecanismos financeiros para garantir a persistência de florestas nas áreas regeneradas. Levando-se em consideração que grande parte dos produtores não possuem condições de restaurar por conta dos custos envolvidos nas ações, a regeneração natural, portanto, é um método especialmente atrativo e pode contribuir para aumentar a cobertura florestal nativa de forma eficiente, com baixo custo e maior aceitação entre os produtores.
A restauração da Mata Atlântica beneficia a agricultura
Recuperar as florestas pode beneficiar a agricultura e a sociedade como um todo. Os produtores são favorecidos pois a recuperação de matas é uma forma de melhorar a disponibilidade de água e recuperar a fertilidade dos solos, potencializando a produtividade a um custo relativamente baixo.
Em larga escala, os benefícios podem ir muito mais além, alcançando toda a sociedade, uma vez que a recuperação das florestas contribui intensamente para o sequestro de carbono da atmosfera, uma ação tão necessária no combate às mudanças climáticas.
Principais fontes
Principais fontes:
Crouzeilles, R. et. al. (2019) There is hope for achieving ambitious Atlantic Forest restoration commitments. Perspectives in Ecology and Conservation, Volume 17, Issue 2, 2019, Pages 80-83, ISSN 2530-0644, https://doi.org/10.1016/j.pecon.2019.04.003.
Pacto pela restauração da mata Atlântica. Minidocumentário da ONU reconhece trabalho de restauração na Mata Atlântica. Disponível em: https://pactomataatlantica.org.br/minidocumentario-da-onu-reconhece-trabalho-de-restauracao-na-mata-atlantica/ Acesso em: 23 maio de 2023.
SOS Mata Atlântica. Mata Atlântica. Disponível em: https://www.sosma.org.br/conheca/mata-atlantica/ Acesso em: 23 maio de 2023.
UNESCO. Mata Atlântica. Disponível em: https://www.unesco.org/mab/50anniversary/en/mata-atlantica Acesso em: 22 maio de 2023.
Foto: Adobe Stock