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17/11/2021

Agricultura e escassez hídrica são incompatíveis!

As áreas secas estão cada vez maiores e a falta de água só piora. Como fica a produção de alimentos?

A água compõe 70% da superfície da Terra e nos mantém vivos. De todo o recurso existente no planeta, apenas 3% é de água doce, a única água capaz de matar a sede das pessoas, dos animais e a fome! Sim, porque a produção dos alimentos, das fibras e de energia depende diretamente da água, que tem tido diminuição progressiva ao longo dos anos. Hoje, a oferta hídrica em nosso mundo é muito limitada.

As pessoas começam a perceber essa dura realidade. E, claro, também se dão conta de que mudanças são necessárias para tentar reverter essa situação. O desenvolvimento da agricultura depende diretamente da água, e sem agricultura, sem água, falta alimento. Um cenário de crise hídrica pode devastar o mundo como você o conhece hoje. E, deste filme de terror, ninguém quer participar, não é?! Não dá mais para menosprezar a importância e o alcance dos impactos da escassez da água, elemento básico no abastecimento da população e nos ecossistemas aquáticos e terrestres. E como fica a produção de alimentos neste ambiente cada vez mais seco e árido?

Números catastróficos

 

Segundo o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2021 (World Water Development Report – WWDR), mais de 2 bilhões de pessoas vivem em países ou regiões com escassez de água potável e utilizam recursos hídricos contaminados. O mesmo estudo aponta que cerca de 5% dos desastres naturais são causados pela seca, que atinge 1,1 bilhão de pessoas, matando mais 22 mil e causando US$ 100 bilhões em prejuízos.

E, no Brasil, a situação não é diferente! Por aqui, a perspectiva também não é otimista. O país enfrenta o menor nível de chuvas dos últimos 90 anos e a crise hídrica tem consequências diretas como falta de água em muitos lares, desabastecimento nas principais usinas hidrelétricas, além de elevação do preço da energia elétrica.

70% da água vai para o campo

É fato que a água é essencial para a manutenção da vida. Além de matar a sede das pessoas e dos animais, esse bem essencial é responsável pela hidratação das plantas, nativas ou cultivadas, além de fonte para a geração de energia. Para nós, brasileiros, ainda mais: ela é proveniente das hidrelétricas, resultado da dinâmica dos rios. Portanto, não é spoiler dizer que a água é essencial para o funcionamento de diversos setores da economia e que a escassez desse recurso pode trazer circunstâncias não desejadas.

A produção agrícola demanda grande quantidade de água e a agricultura responde por 70% da utilização desse recurso mundialmente. Destinada principalmente para a irrigação, mas também para rebanhos bovinos e piscicultura, a água vem sendo cada segundo mais necessitada, pois com o crescimento populacional e o desenvolvimento econômico acelerado, a demanda só aumenta. Essa equação vai ficando ainda mais difícil, já que enfrentamos alterações na distribuição das chuvas com as mudanças climáticas. Mas a boa notícia vem também das pessoas, pois não faltam esforços pra buscar soluções de combate e enfrentamento a este cenário. Algumas iniciativas importantes são por exemplo a definição de estratégias para a adaptação de plantas às condições de déficit hídrico, ou ainda os sistemas de irrigação integrados ao monitoramento digital do solo e dos cultivos. Ações como essas estão em pauta mundo afora.

 Desafio

As mudanças no uso e na ocupação da terra têm aumentado as emissões de CO2, contribuindo com o aquecimento global,  e consequentemente vem intensificando as mudanças climáticas. Claro que tudo isso influencia diretamente a disponibilidade de água. As projeções mundiais indicam que em menos de 30 anos, a população global deve ultrapassar a marca de 9 bilhões de pessoas. E, se pensarmos que o crescimento populacional ocorre em um ritmo mais acelerado do que o da melhoria do sistema de fornecimento de água potável, será preciso aumentar a produção de alimentos diante de um cenário de escassez de recurso hídrico.

Os números demonstram os detalhes do cenário. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que o mundo vai precisar de cerca de 60% mais alimentos até 2050, e que a produção irrigada de alimentos vai aumentar mais de 50% ao longo do mesmo período. Mas não para por aí. Dados que o relatório WWDR apresentam são alarmantes na questão do uso da água. De acordo com o relatório, o mundo deve enfrentar um déficit hídrico de 40% até 2030.

Práticas sustentáveis e proteção de áreas verdes

Nos últimos 30 anos, a modernização da agricultura fez da captação e utilização de recursos hídricos elementos-chave para a expansão dos cultivos e da produtividade. Novas tecnologias, regulamentação, sistemas de produção e boas práticas agrícolas podem explicar como o país tem aumentado a produção no campo e trabalhado pela economia de água. Alentador saber que não faltam estudos e pesquisas sobre as várias formas de se entregar apenas o volume necessário de água para as plantas, evitando o acúmulo no solo e o desperdício. E o melhor: quando um sistema de irrigação é bem planejado e dimensionado, pode elevar a produtividade em até três! A otimização tem sido alcançada quando se combina o monitoramento digital das lavouras. Com isso, é possível economizar até 60% de água na produção. Sem falar nas sementes e mudas tolerantes à seca, adaptadas e que crescem em ambientes de escassez de água.

Parece futurista demais? É realidade, e nada virtual! Um outro aspecto essencial na conservação dos recursos hídricos é a preservação das áreas verdes. No Brasil, a legislação ambiental está presente desde a época da colonização. Portanto, o movimento não é nada recente. No fim do século 18, foram iniciados programas de recuperação de florestas. Atualmente, é o Código Florestal de 2012 que estabelece as regras para a preservação da vegetação nativa, mas sua implementação ainda é um desafio em vários estados brasileiros. Os efeitos climáticos e a necessidade de soluções cada vez mais eficientes certamente guiarão o planeta em direção a uma produção cada vez mais sustentável. Com o auxílio da ciência, da tecnologia e de legislação, é possível, sim, modificar práticas e garantir a desejada e imprescindível segurança hídrica e alimentar para as próximas gerações.

ODS envolvidos nessa notícia:

Principais fontes

Moreira, T.M.; Seo, E.S.M. Reuso da água de chuva: uma alternativa sustentável para os períodos de escassez hídrica. Brazilian Journal of Animal and Environmental Research, 2021.

Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2021 (World Water Development Report – WWDR). Disponível em < https://materiais.pactoglobal.org.br/valor-da-agua-fatos-e-dados> Versão original em inglês < http://www.unesco.org/reports/wwdr/2021/en/download-the-report >

Villes, V.S.; et al. Água como bem econômico: dessalinização para o combate da escassez hídrica no agronegócio. Disponível em: http://dx.doi.org/10.20435/multi.v24i57.2152.