Agricultura regenerativa: caminhos para a sustentabilidade agrícola
Descubra o que é agricultura regenerativa e entenda a importância da incorporação desse conceito na produção agropecuária brasileira
Atualmente, muito se fala em agricultura regenerativa, mas poucos conhecem o seu verdadeiro significado. Ela está transformando as práticas tradicionais de produção de alimentos, construindo uma produção agropecuária mais resiliente e reduzindo a emissão de gases de efeito estufa (GEE).
A ideia de agricultura regenerativa vem trazendo uma nova perspectiva para o agricultor, onde ele precisa ter um olhar sistêmico de sua propriedade para adotar práticas que produzem ao mesmo tempo em que proporcionam condições para a natureza se recuperar.
Mas você sabe no que a agricultura regenerativa difere da convencional?
A seguir, vamos apresentar os conceitos dessa agricultura que vem alterando a forma de pensar de muitos produtores e traz vários benefícios para o meio ambiente e o bem-estar geral da população.
O que é agricultura regenerativa e no que ela difere da convencional?
Agricultura regenerativa é aquela que, em níveis crescentes de produtividade, melhora as condições biológicas do solo. Com isso, objetiva alto nível de estabilidade econômica e biológica. Tem um impacto mínimo ou nenhum no meio ambiente com contribuição produtiva de um número cada vez maior de pessoas durante uma transição para uma dependência mínima de recursos não renováveis.
O termo agricultura regenerativa foi criado nos anos 80 por um americano chamado Robert Rodale, fundador do Rodale Institute. Seu objetivo foi recuperar conhecimentos tradicionais sobre práticas baseadas na natureza e conectá-los ao conhecimento científico que temos hoje, a fim de restabelecer sistemas naturais em áreas agrícolas. Esse tipo de agricultura enfatiza a inter-relação de todas as partes de um sistema agrícola, incluindo o agricultor e sua família. Também destaca a importância do equilíbrio biológico no sistema e redução do uso de materiais e práticas que afetam negativamente essas relações.
Já a agricultura convencional tende a esgotar o solo e pressionar ecossistemas, dependendo cada vez mais de insumos químicos e deixando o agricultor em uma situação socioeconômica mais vulnerável.
Princípios da agricultura regenerativa: da saúde do solo à recuperação da biodiversidade
Os princípios e práticas da agricultura regenerativa, do ponto de vista agronômico, estão associados a dois principais desafios: 1. Restauração da saúde do solo, incluindo a captura de carbono para mitigar as mudanças climáticas e; 2. Reversão da perda de biodiversidade. Na tabela a seguir, destacamos alguns dos principais princípios e as práticas a eles associadas:
Princípios | Práticas |
Minimizar lavoura | Plantio de lavouras reduzidas, agricultura de conservação, tráfego controlado de máquinas |
Manter cobertura do solo | Cobertura morta (mulching), culturas de cobertura e culturas permanentes (permacultura) |
Sequestrar carbono | Agrofloresta, sistema silvipastoril, cultivo de árvores |
Confiar mais na ciclagem biológica de nutrientes | Adubos animais, compostagem, adubos verdes e culturas de cobertura, manutenção de raízes vivas no solo, atividade microbiológica para fixação de nitrogênio, redução da dependência de fertilizantes minerais, agricultura orgânica, permacultura |
Promover diversidade de plantas | Rotações de culturas, culturas de cobertura diversificadas, agrossilvicultura |
Integrar a pecuária | Pastejo rotacionado, cultivo de pastagem, sistema silvipastoril, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) |
Evitar pesticidas | Rotações de culturas, plantio de lavouras reduzidas, agricultura orgânica, diversidade de macro e microrganismos |
Melhorar do ciclo da água | Cobertura morta (mulching), culturas de cobertura, compostagem, adubos verdes, |
Fonte: Adaptado de Giller et al. (2021)
Um exemplo bem-sucedido de aplicação de agricultura regenerativa no Brasil é representado por um estudo de caso no Oeste Catarinense. O estudo consistiu em comparar o método de cultivo de soja em uma lavoura que aplica a agricultura regenerativa e outra com plantio direto. Foi possível concluir que o método de agricultura regenerativa apresenta maiores benefícios para a lavoura devido à maior infiltração de água no solo, menor densidade do solo e maiores teores de fósforo e potássio, promovendo assim um ambiente mais estável de produção em anos com condições climáticas críticas.
Ação contra mudanças climáticas e contra perda da biodiversidade por meio da agricultura regenerativa
De acordo com um estudo do Instituto Rodale, a agricultura regenerativa pode ser a solução de curto prazo para a mudança climática que precisamos implementar hoje. O trabalho afirma que se as taxas de sequestro de carbono alcançadas por casos exemplares da agricultura regenerativa fossem alcançadas em lavouras e pastagens em todo o mundo, seria possível sequestrar mais do que nossas atuais emissões anuais de dióxido de carbono. Ou seja, seríamos capazes de sequestrar mais do que 100% das emissões anuais de dióxido de carbono em todo o mundo.
Em outro estudo do Instituto Rodale, especialistas alertam sobre pesquisas recentes que declararam que estamos vivendo um apocalipse da biodiversidade, com 1.000.000 de espécies em sério risco de extinção devido à crise climática e perda de habitat. Eles reafirmam a abordagem da agricultura regenerativa como um sistema que constrói a saúde do solo apoiando a biodiversidade acima e abaixo do solo para devolver carbono e nutrientes de volta ao solo.
Os princípios da agricultura regenerativa vão além dos aspectos agronômicos e ambientais
Como já mencionado, a agricultura regenerativa busca não somente a redução de impactos ambientais, mas também a melhoria da qualidade de vida das pessoas e o bem-estar animal. A ideia é produzir alimentos altamente nutritivos, livres de contaminantes, com altos rendimentos e maior geração de empregos.
Uma Agricultura Regenerativa requer planejamento em nível nacional, mas muita autossuficiência local e regional para fechar os ciclos de fluxo de nutrientes.
Contudo, os sistemas agrícolas regenerativos propõem-se a melhorar a saúde do solo e promover a biodiversidade, melhorando o ciclo da água, sequestrando carbono ao mesmo tempo que produzem alimentos nutritivos de forma lucrativa e com responsabilidade social.
Principais fontes
Principais fontes:
Giller, K. E., Hijbeek, R., Andersson, J. A., & Sumberg, J. (2021). Regenerative Agriculture: An agronomic perspective. Outlook on Agriculture, 50(1), 13–25. https://doi.org/10.1177/0030727021998063
Instituto Rodale. Regenerative Agriculture and the Soil carbon solution. Disponível em: https://rodaleinstitute.org/wp-content/uploads/Rodale-Soil-Carbon-White-Paper_v8.pdf Acesso em: 20 fev. de 2023.
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