Uma das premissas da sustentabilidade é usar alimentos da região, cultivados o mais perto possível de onde serão consumidas. Essa também é uma das prerrogativas para promover uma alimentação saudável e nutritiva, levando em conta as características de cada bioma. Baseado nisso, o livro “Amazônia à Mesa” foi produzido há três anos, reunindo mais de 40 receitas que destacam a culinária da Amazônia e utilizam produtos da sociobiodiversidade e da agroecologia regional em seu preparo. Elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Cooperação Técnica Alemã pelo Desenvolvimento Sustentável (GIZ) com apoio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a publicação saiu de diversas oficinas realizadas naquele bioma com a participação das merendeiras da rede pública de educação e de nutricionistas. À frente delas, a nutricionista Neide Rigo, que já desenvolvia um trabalho voltado para alimentação saudável e natural. 

Ela foi convidada, no final de 2018, pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) e pela Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para realizar pesquisa aprofundada e oficinas nos municípios de Laranjal do Jari – AP e Lábrea – AM. E foi daí, do seu estudo sobre os hábitos alimentares da região, além da troca de informações durante as várias oficinas voltadas para a formação de merendeiras destes municípios, através do uso de ingredientes locais, que saiu o “Amazônia à mesa”. As fotografias do livro são de Neide Rigo, que contou também com uma equipe técnica formada por: Alexander Rose, Bruno Costa e Silva, Camila Viana, Carolina Marra, Karine Silva dos Santos, Luciana Rocha, Maria Sinedes Neres dos Santos, e Tatiana Balzon.

Reprodução do livro “Amazônia à mesa”

Durante os encontros, as merendeiras e nutricionistas das escolas rurais dos municípios de Laranjal do Jari (AP) e Lábrea (AM), aprenderam testando e misturando, com a ajuda da Neide, a usar os produtos da região, como açaí, cará, cariru, tucumã, urucum, derivados da mandioca, castanhas, cupuaçu, pirarucu de manejo, jaca e banana da terra. E também foi incentivado e incluído o uso das Plantas Alimentícias Não Convencionais – PANCs.

Reprodução do livro “Amazônia à mesa” – Pamonha de macaxeira com banana no vapor

A publicação ainda orienta as cozinheiras sobre os utensílios necessários para que os pratos sejam realmente saudáveis, desde a organização da cozinha, sua higiene, as panelas adequadas para cada preparo, talheres, dicas sobre a utilização do açúcar, do sal e da gordura. 

Reprodução do livro “Amazônia à mesa” – variedades de feijões

A obra faz parte do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que repassa recursos aos estados e municípios para adquirirem produtos e com isso garantirem a alimentação de mais de 40 milhões de estudantes de todas as escolas públicas brasileiras. Entre os objetivos do programa está o uso de 30% do valor repassado na compra direta de produtos da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural. 

O PNAE é gerenciado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC). Na área da alimentação e da nutrição, é o mais antigo programa social do Governo Federal, considerado por especialistas um eixo fundamental das políticas públicas destinadas à segurança alimentar. Este programa é considerado um dos maiores do mundo na área da alimentação escolar, atendendo, de forma global e gratuita, mais de 40 milhões de estudantes que frequentam instituições públicas de educação básica em todo o país, tendo por base a perspectiva do direito humano à alimentação adequada. 

Reprodução do livro “Amazônia à mesa”

Quem é Neide Rigo?

Reprodução da Internet

Uma nutricionista com quase 200 mil seguidores no Instagram. Praticamente uma influencer, que divulga a alimentação saudável, a criatividade e as opções incríveis de receitas e misturas que valorizam os alimentos nacionais, especificamente regionais. Formada pela Universidade de São Paulo – USP, ela sempre trabalhou de forma autônoma em pesquisa, experimentação e divulgação de ingredientes. Escreveu sobre comida em diversos meios de comunicação durante 20 anos, e se diferenciou por destacar espécies vegetais comestíveis negligenciadas e desconhecidas.

Neide também tem um blog há 12 anos em que fala sobre alimentos desvalorizados e suas possíveis formas de preparo. Além desse livro, é autora de “Mesa Farta no Semiárido”, publicado em 2016 pela Coopercuc, Uauá BA, como parte do projeto que incluiu a formação de merendeiras nos municípios de Uauá, Curaçá, Sobradinho e Euclides da Cunha. Desenvolveu atividade de formação de merendeiras para o Governo da Bahia, em Salvador e Gandu durante o ano de 2018, participou de formação de mulheres em duas missões ao Senegal a convite da ong francesa Solidarité e ministrou oficinas de cozinha para merendeiras em Acrelândia – AC à convite da Faculdade de Nutrição da USP. 

Ela contou em entrevista à “Draft” que sua paixão pelas plantas e pela culinária começou na infância, no bairro Brasilândia, periferia de São Paulo, onde conheceu vizinhos vindos de muitas regiões do país, como Piauí, Ceará, Paraná, Goiás e Minas Gerais. Ela entrava na cozinha da casa deles, ainda criança, para ver o que tinha dentro das panelas e o que vinha na mala quando eles chegavam da sua terra natal. O que era diferente e exótico chamava a atenção da menina.

Além de “Amazônia à mesa”, Neide Rigo também escreveu o livro “Mesa Farta no Semiárido”, resultado de um trabalho com as merendeiras de Uauá, Euclides da Cunha, Curaçá e Sobradinho. Ele não está à venda, pois foi feito para merendeiras, agricultores, professores e gestores.