De fisioterapeuta a “mulher do agro”, Geni Schenkel lidera as Agroligadas
Ela reúne mulheres do Mato Grosso e de mais 100 cidades do Brasil em torno da comunicação clara e de projetos de educação para conectar o campo à cidade
Conectar o campo à cidade. Esse é o objetivo do movimento Agroligadas, que tem Geni Caline Schenkel como presidente. Formado por mulheres, profissionais do agronegócio, as máximas do grupo são “verdade, ética, coragem, compromisso e amor”, como dizem em seu site. Sempre a partir de ações educativas e de comunicação, elas procuram levar informação correta sobre o agronegócio, com o objetivo de promover o campo e o trabalho rural. “Mostramos que o agro está em tudo, em todo lugar, no dia a dia de todos”.
Elas fazem parte de diferentes cadeias do setor, e reforçam que o movimento não tem fins lucrativos. Sua missão é reunir esforços na defesa do setor produtivo, sempre primando pela comunicação clara e de qualidade e pela educação.
Mas quem é a presidente das Agroligadas, Geni Caline Schenkel? Ela nos contou nesta entrevista como o movimento começou e dá mais detalhes sobre a sua atuação.
Como surgiu o Agroligadas?
O Agroligadas começou quando eu passei a me aproximar mais dos temas do agro ao acompanhar meu marido na Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (AMPA). Eu sou fisioterapeuta e sempre trabalhei na minha profissão. Mas, quando não consegui mais conciliar a minha profissão com família, casa e comecei a conversar com as mulheres do agronegócio, esposas, mulheres que trabalhavam nas instituições percebi que havia muito a fazer.. Naquele momento, estava acontecendo na mídia um monte de fake news sobre o agronegócio relacionadas à defensivos agrícolas. Aí casou muito com o conteúdo errado que estavam apresentando na escola da minha filha. Na apostila, ela veio me questionar sobre algumas matérias, principalmente sobre Geografia, História, que falavam sobre agricultura do Brasil, trabalho escravo e envenenamento no prato. E eu percebi que também existia esse mesmo erro nos materiais escolares dos filhos de outras mulheres. E essa foi a primeira mobilização das Agroligadas. Nós nos reunimos, em torno de 50 mulheres, esse foi o primeiro encontro que eu denominei de Agroligadas, em 22/08/2018. A partir daí, o grupo foi aumentando cada vez mais. De agosto a dezembro, de 50 mulheres a gente cresceu para 150 mulheres, foram entrando mais mulheres de todo o Brasil nesse grupo de WhatsApp que eu criei pra gente se organizar, e ele acabou se tornando muito grande, de mulheres do agro, do Brasil todo. Onde essas mulheres, principalmente do Mato Grosso, queriam que esse grupo tivesse representatividade. Então convidei algumas mulheres para integrar a diretoria, e desde o início sabia que o que a gente queria era levar informação correta do agro pra quem não tinha. Contratamos uma consultoria de negócios, a People de Cuiabá, e então constituímos a governança. E começamos a realizar ações, Dia de campo, ida a escolas, programa de rádio, podcast… Consequências de um trabalho de muita dedicação dessas mulheres, cada vez mais integradas. Somos 13 mulheres na diretoria. Mas, fomos agregando muitas outras interessadas em fazer parte e fomos criando núcleos, para fazer o que a gente está fazendo aqui. Hoje nós temos 13 núcleos Agroligadas, que são líderes nas suas cidades, nas suas regiões. Elas fazem a mesma coisa que a gente ou até mais.
Vocês estão presentes em mais de 100 cidades. De que forma atuam nessas cidades?
Quando a gente fala que está em mais de 100 cidades é porque hoje nós separamos as mulheres que são ativas, dentro das Agroligadas, e as simpatizantes. No nosso site, temos um cadastro com mais de 800 mulheres de todo o Brasil. E esse número é de dois meses atrás. São mulheres que gostam de comprar produtos das Agroligadas, disseminam nosso conteúdo, se sentem parte do grupo, mas não estão tão ativas. E do outro lado, tem os nossos núcleos que têm 50 mulheres, 100, 200 participantes. Por isso, a gente fala que está presente em mais de 100 cidades. Por exemplo, Sinop, Sapezal, um evento nessas cidades já vai atingir toda a região em torno delas.
Este ano, a nossa diretoria principal tem um plano de realizar quatro projetos. Já realizamos dois: tour do Pantanal com as mulheres Agroligadas das coordenações, outro foi o do turismo rural do algodão. Teremos mais um Dia de Campo sobre ILPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta) e no final do, teremos um workshop. E os núcleos estão trabalhando desde o início do ano em suas comunidades também com várias ações como essas.
Qual é a importância da atuação feminina no agronegócio?
Acredito que a gente está ganhando nosso espaço por conta do trabalho, mas não acho que a gente tem que impor nada. Eu acho que a gente consegue isso por mérito. Lógico que temos que abrir espaços e muitas de nós estão abrindo esse espaço. Cada vez que a gente se mostra presente dentro do agro, dentro dos diferentes setores, isso abre ainda mais espaço. Eu vejo que a importância de mostrar que a gente tá atuando no agronegócio hoje é essa, de realmente abrir espaço para as novas gerações, para essas mulheres que estão chegando, e até para aquelas que estão aí há algum tempo e nunca acreditaram que eram do agronegócio, que não tinham um papel de referência dentro do agro. Isso a gente vê muito dentro do Agroligadas.
Mais de 20 mil pessoas impactadas? Como vocês chegam a tanta gente?
Eu tenho certeza que é muito mais do que isso, mais do que 20 mil pessoas impactadas. Porque uma simples ação, onde a gente vai numa escola, no Circuito Agroligadas, e leva o agro pra dentro da escola, faz diferença. Impactamos muita gente indo pras escolas, falando com a coordenação. Nessas ações, pegamos o calendário comemorativo da escola e trabalhamos os conteúdos do agro junto com eles, com quiz, jogos. Por exemplo, falamos do Dia da água, do meio ambiente, levamos pessoas do agro para falar com todos eles, conteúdos do agro para dentro das escolas. E promovemos dinâmicas variadas. Eu acredito que assim a gente alcança um número bem grande de alunos e professores. Em cada cidade dessas trabalha aí com quatro escolas. Sinop, por exemplo, pegou muito mais que 30 escolas só neste ano para trabalhar.
Tem outro projeto que é o De Onde Vem, que é assim: a gente leva uma plaquinha no supermercado nos produtos que foram produzidos dentro da cidade, e informa que esse produto foi produzido aqui, nesta cidade, pelo produtor tal. Então a gente atinge dentro do agronegócio muita gente e todo o público dos supermercados que estão ali comprando. Esse projeto também foi pro online, onde contamos as histórias dos produtores que vendem pra cidade, pra comunidade, e que estão presentes nas feiras livres. A gente também entra em eventos que já existem na comunidade. Por exemplo, teve uma feira agropecuária em Cabo Verde. Nós promovemos um tour pela feira com os professores, mostramos os maquinários e conversamos sobre o agronegócio com eles. Levamos 80 professores nesse tour e mostramos o nosso trabalho. Isso é feito em todos os núcleos e comunidades. Por isso dizemos sim, com tranquilidade, que impactamos 20 mil pessoas no mínimo, para mais.
Quais são as áreas em que as Agroligadas atuam?
As áreas em que as Agroligadas atuam são a educação e a comunicação. Tudo que tem relação com a educação e com a comunicação, a gente faz parte e promove. O que a gente não faz, porque não temos nenhuma identidade, é promoção social e política. Todos os nossos projetos têm que ter a ver com esses dois pilares: a educação e a comunicação.
Como garantir o interesse das mulheres e dos homens do agro na sustentabilidade nesse momento em que vemos desmatamento recorde e a grande pressão para produzir mais e melhor?
Com o conhecimento. Eu acho que cada vez mais é preciso deixar claro pra todo mundo a importância dessa atividade de produzir. Que a gente produz com responsabilidade e eficiência. E tanto os homens quanto as mulheres têm acesso a esse conhecimento, de forma igual. Estamos todos em busca de conhecer e mostrar pra sociedade muito mais sobre as produções sustentáveis que estamos fazendo e queremos envolver ainda mais. Porque não adianta cobrar participação se não tem envolvimento, e para, o conhecer e o ensinar fazem parte desse movimento.
Como as Agroligadas trabalham as boas práticas de sustentabilidade?
Além das Agroligadas, que são agricultoras, estão dentro da produção agrícola e da pecuária, e já promovem a sustentabilidade no seu negócio, o nosso papel fundamental, o papel mais importante das Agroligadas, é mostrar ao público quais são as boas práticas de sustentabilidade que podem e devem ser adotadas no agronegócio. E mostrar o que a gente faz de verdade dentro da produção do agronegócio envolvendo a sustentabilidade. Porque todo negócio hoje, para funcionar bem, tem que ser sustentável. E não só pelo cuidado com o meio ambiente, mas muito mais. E todas as nossas Agroligadas sabem que nós precisamos divulgar isso, falar cada vez mais a respeito, tanto no offline quanto no online.
O que você diria hoje para as mulheres do agronegócio que ainda não estão em seu lugar de direito e de fala?
Eu acho que tudo tem o seu tempo e conselho a gente pode dar, a gente pode contar as nossas histórias pra inspirar, mas cada um, independente de ser homem ou mulher, tem aquele momento de virada de chave, aquele momento em que ela abre os olhos ou tira a lente do óculos escuro e enxerga, limpa a lente do óculos, e enxerga de verdade, o que está na sua frente. Isso aconteceu comigo. E as oportunidades foram surgindo com o tempo, as conexões foram vindo com o tempo. Então o que eu digo sempre paras mulheres que vêm falar comigo e que dizem que eu sou inspiração, é que a gente precisa contar a nossa história e falar o que move a gente, contar o que a gente realmente faz. Se eu tenho dificuldade de entrar num negócio, ou se está sendo fácil pra mim, eu conto, eu ensino. E no caso de outra pessoa estar com aquela mesma dificuldade, eu tento ajudar, pego na mão e conto a minha experiência. Então, eu diria: ‘Acredite em você, faça conexões e chegue perto de alguém que é boa no seu negócio e tá crescendo, chegue perto, peça orientação, estude e aprenda.’
Principais fontes
Fonte foto: Fabiana Pereira/ Fotos corporativas
Entrevista por: Denise Correa