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17/04/2023

Evento aponta direções para garantir a segurança hídrica

Pacto Global da ONU, TNC, Water Resilience Coalition e Ambev analisam os próximos passos e o Fundo de Águas de São Paulo

Recentemente, evento online promovido pela The Nature Conservancy e Water Resilience Coalition reuniu Alexander Rose – Gerente Sênior de Meio Ambiente do Pacto Global da ONU no Brasil, André Ramalho, Coordenador Water Resilience Coalition, Mariana Appel, Gerente de sustentabilidade Ambev, e Samuel Barreto, Gerente de Águas da TNC Brasil para discutir a questão da segurança hídrica no setor corporativo e para os usuários de água.

O foco foi avaliar estratégias e desafios com base no caso do Fundos de Águas de São Paulo, levantando as lições aprendidas e os próximos passos.

A abertura foi feita pelo CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, Carlo Pereira, que agradeceu a parceria das entidades presentes, valorizando a análise e perspectivas para definir ferramentas para trabalhar coletivamente as bacias do Brasil. Todos participaram da 2ª Conferência da Água promovida pela ONU em Nova York, EUA, e foi de lá que ele entrou no evento.

Samuel Barreto, gerente de Água e Agricultura da TNC, lembrou a todos do cenário desafiador que enfrentamos em relação à água e saneamento. Entre 2014 e 2015, o Brasil sofreu a pior seca da sua história, com 70% de desmatamento, e o Sistema Cantareira, um dos maiores do mundo, operando com menos de 5% da sua capacidade. Região que chegou a abastecer quase 10 milhões de habitantes, e hoje abastece cerca de 7,5 milhões.

Também explicou a localização do Fundo de Águas de São Paulo, que está na região Sudeste do Brasil, no Estado de São Paulo, envolvendo três bacias hidrográficas: Alto Tietê, bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, e parte da bacia do Paraíba do Sul. Região muito importante, onde estão presentes mais de 27 milhões de pessoas, que representam mais de 27% do PIB brasileiro.

Samuel destacou ainda a função do uso do solo e o planejamento de paisagem para ter uma área mais produtiva e com maior segurança hídrica – como por exemplo, a partir de um plano financeiro, com um arcabouço legal para dar sustentação à iniciativa, com políticas públicas, instrumentos de gestão, para ter continuidade.

Ainda sobre o Fundo de Águas de São Paulo, Samuel da TNC apresentou o plano de ação em curso e os resultados alcançados num painel demonstrando o quanto estão preocupados em beneficiar as famílias impactadas na região e alavancando recursos ao longo do período. E apontou as metas para 2030 do Fundo, que são desde atingir 67 mil hectares de floresta preservados até geração de emprego e renda e aprimoramento de políticas públicas.


Painelistas durante transmissão pelo youtube

Alexander Rose, falou sobre os princípios do Pacto e da plataforma que visam atingir os objetivos relativos à água potável, saneamento e vida na água. Além dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), o trabalho se norteia por dez princípios, dos quais três se referem aos recursos hídricos. Focados em Meio Ambiente, eles são:

  • 07 As empresas devem apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais.
  • 08 Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental.
  • 09 Incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientalmente amigáveis.

Alexander reforçou também o objetivo principal do Pacto Global de impulsionar e acelerar, em conjunto com as empresas, o atingimento das metas sobre as águas. O gerente de desenvolvimento do Pacto Global também destacou que são as empresas grandes que estão mais bem preparadas.

Segundo ele, a competência na gestão de risco está no ponto central, análise e gestão de risco hídrico, e a maioria das empresas estão ligadas nisso. “Uma barreira é a localização, pois muitas empresas preferem fazer um projeto no quintal do que pensar na bacia toda, na ação coletiva”, disse o representante do Pacto Global, acrescentando que o investimento que trabalhará a bacia toda será mais efetivo.

“Temos visto no Pacto cada vez mais empresas interessadas, querendo se engajar, mas é um processo lento. O Pacto trabalha com compromisso, e, em geral, o engajamento e interesse estão aumentando”, declarou durante o evento, informando ainda que as maiores empresas estão mais comprometidas do que as médias e pequenas. Ou seja, concluiu-se que a tendência é positiva, mas ainda precisa ser mais robusta.

Alexander ainda trouxe números sobre o Movimento Mais Água: “Temos 23 empresas e mais 16 instituições (ONGs, academias, governos)”, e fez um convite a todos os participantes para entender como funciona o movimento Mais Água entrando no site do Pacto e se engajando.

Pelo Water Resilience Coalition / WRC, André Ramalho afirmou que todos estão vendo um caminho de evolução, com bons resultados. Caminho positivo para melhorar a situação dos recursos hídricos para todos. Contou aos participantes que o WRC existe há mais de 14 anos e surgiu com o objetivo de conscientizar as empresas para o melhor gerenciamento dos seus recursos hídricos. Assim como, criar diretrizes numa época em que não se falava em gestão de água.

André disse que teve um grande sucesso ao espalhar esse conceito e passou a ser adotado fortemente pelas empresas. “Hoje, a maior parte das cadeias se preocupa em fazer essa gestão da água, melhorar sua produtividade, etc.”, afirmou.

Também relatou que durante esse processo, muitas empresas líderes entenderam que se inserem num contexto maior, e que não são os únicos usuários. E assim, procuraram o Water Resilience Coalition. Segundo ele, organizações como a TNC devem continuar atuando e se unindo aos demais, pois possuem bons projetos. E explicou que vê o papel da WRC como conector, unindo bons projetos com o mesmo objetivo.

Mariana Appel, relatou que o processo dentro da Ambev foi de amadurecimento. “Já implementamos há mais de 25 anos um projeto de sustentabilidade voltado para a água, no qual temos trabalhado internamente para reduzir o consumo da água – já tivemos uma redução de 55% do nosso consumo. Temos uma meta: 2,5 litros de água para cada litro de bebida envasada, e nas áreas com estresse hídrico, 2 litros”, contou a gerente.

Ela reforçou que com esse trabalho consistente, o grupo está sempre olhando para dentro. Mas, houve uma mudança de perspectiva também: “Percebemos que só olhar pra dentro dos muros não resolveria; as bacias muitas vezes iam se deteriorando, alterações foram acontecendo. E por isso, na operação em Brasília, onde o córrego próximo teve essa deterioração, nós começamos a trabalhar, com o apoio de uma ONG e com a comunidade para restauração e distribuição de kits de análise de água, etc. E isso serviu pra gente como um exemplo, um piloto”, relatou Mariana, dizendo que depois do sucesso de transformação da região, entenderam que precisavam ampliar essas ações.

Em 2013, iniciaram esse trabalho, e hoje, segundo a gerente da Ambev, estão em sete regiões no Brasil e 11 na América do Sul, sempre com vários parceiros, e ações coletivas. Mariana reforçou que a Ambev entende o seu papel como empresa grande: “Nosso ecossistema no Brasil é robusto e temos tentado trabalhar de ponto a ponto. Uma das iniciativas é o CDP para água, que convida todos os fornecedores a participar. Temos agendas positivas sempre com áreas de sustentabilidade dessas outras empresas, estamos sempre abrindo o que fazemos e incentivando as empresas a fazerem também”.

Ela ainda contou que recentemente foi lançado o compromisso para ação climática, conectando-se para um mundo melhor. “Todos que assinaram terão medição e reporte da emissão de gases de efeito estufa, definirão metas e ações de redução concreta”. São mais de 200 fornecedores que assinaram com a Ambev, segundo Mariana, concluindo que muito do resultado do projeto de água que têm em São Paulo vem do investimento do grupo e dos parceiros, e estão todos trabalhando para restaurar a bacia hidrográfica. Mas alertou que é preciso conseguir escala. Ações coletivas são mais positivas e com resultado maior. “Hoje, com o trabalho na região de SP, a gente tem mais ou menos uns 500 hectares restaurados numa ação coletiva”, informou a gerente da Ambev.

Para André, do WRC, o sucesso está em conseguir os apoios críticos, usando o projeto como modelo para falar sobre projetos iniciais com outras organizações no mundo. “Precisamos de muitas empresas participando, mas precisamos de investimentos de outros órgãos também. Soluções baseadas na natureza dão resultado e isso nos ajudou a conversar com bancos de desenvolvimento e com isso, trazê-los para mesa para ajudar a efetivar essas ações”, declarou.

Também ressaltou que todos têm a ganhar com uma bacia mais estável. André contou que o WRC colocou uma meta de ter um impacto positivo em 100 bacias hidrográficas, e bons exemplos, como o de São Paulo, ajudam a divulgar e ampliar isso para outros lugares.

Samuel, do TNC, reforçou que as parcerias estratégicas, a atuação com o Pacto, prefeituras, empresas – geralmente o elo mais frágil dessa cadeia – são essenciais para o progresso das iniciativas. E citou o Programa Nascentes como o “Tinder” do Meio Ambiente, “pois conecta instituições que necessitam fazer a compensação ambiental com o proprietário rural, com potencial de conservação, quantidade de água, solo etc.”, complementou.

Também Alexander, do Pacto Global, ressaltou a importância das ações coletivas: “É o caminho certo, juntar os vários stakeholders… mas o desafio fica na comunicação, no momento de agregar todos eles: comitê de bacias, governo estadual, federal, ONGs, tendo 30, 40 instituições. Por isso, é preciso uma equipe dedicada à comunicação, em nível de estrutura”.

Alexander completou que um bom exemplo dessa conexão de stakeholders é o programa “Ambição 2030” – evento realizado em 7 de março – que contou com mais de 14 mil pessoas assistindo à transmissão online – um grande movimento e iniciativa. Este ano, muito pautado na questão ambiental.

Ainda nesta abordagem, Alexander completou sobre a importância em falar mais sobre o Movimento Mais Água, que possui três metas ambiciosas e motivadoras. São elas:

  • Meta 1: 99% de pessoas com acesso à água potável, segura, até 2033;
  • Meta 2: 90% de esgoto coletado e tratado até 2023;
  • Meta 3: 50% de reflorestamento das áreas críticas que auxiliam na produção de água até 2030.

As duas primeiras voltadas para saneamento básico, e a terceira em restauração.

“Uma empresa para participar não precisa abraçar as 3 metas. Podem se comprometer com uma ou duas. No momento, são 23 empresas e a tendência é crescer. 2030 é a nossa primeira meta, e não pretendemos parar em 2030”, ressaltou Alexander, do Pacto Global.

Samuel, do TNC, fechou o encontro divulgando o estudo “Reservatório invisível” que mostra análises econômicas e detalhadas sobre soluções baseadas na natureza como pilar da segurança hídrica.

Todos os painelistas reforçaram a importância da união dessas entidades, convidando as empresas a participarem de todas as ações em prol da melhoria dos recursos hídricos no país.

ODS envolvidos nessa notícia:

Principais fontes

Principais fontes:
https://www.pactoglobal.org.br/
https://www.youtube.com/live/PL9gywB2TcM?feature=share