Feijão: uma leguminosa de valor nutricional e social
A cultura do feijão é de tamanha importância tanto para o prato dos brasileiros como para os pequenos produtores rurais
Que o feijão é um alimento de extrema importância para o brasileiro, todo mundo já sabe. Além de fazer parte da alimentação diária de mais de 400 milhões de pessoas que vivem nos países tropicais, o grão possui grande valor nutricional. É uma leguminosa que fornece proteínas, fibras, carboidratos complexos, vitaminas e micronutrientes, contribuindo consideravelmente para uma dieta mais rica e saudável, reduzindo a vulnerabilidade de muitas pessoas quando se fala em fome e desnutrição.
O que muita gente ainda não sabe é que 42% da sua produção no país, provém das pequenas propriedades rurais, agregando também à cultura, um alto valor social. Em vista disso, a falta de incentivo ao seu consumo é prejudicial não apenas para a segurança alimentar, mas também para os trabalhadores que dependem do seu cultivo para sobreviver.
Diversidade no consumo e importância socioeconômica e cultural
Os vários tipos de feijões são mundialmente reconhecidos pelo seu valor nutricional e versatilidade de preparo, principalmente na culinária brasileira. Há também grande diversidade de tamanhos, cores e sabores como o feijão carioquinha, o preto, o branco, mulatinho, vermelho, fradinho e feijão caupi (ou de feijão de corda), entre outros.
Além do arroz com feijão, consumido quase diariamente pelos brasileiros de todo o país, muitos dos pratos típicos regionais têm o feijão como um dos seus principais ingredientes. Um deles é a famosa feijoada com feijão preto, que é conhecida mundialmente como o prato brasileiro mais popular e muito consumido nas regiões sul e sudeste. Nas regiões norte e nordeste, o feijão de corda é um dos mais consumidos, compondo pratos típicos como baião de dois, arrumadinho, entre outros.
Todos eles apresentam grande importância socioeconômica, desempenhando papel fundamental na produção agrícola e geração de empregos, especialmente para as populações rurais que vivem da agricultura familiar.
Como a agricultura familiar contribui com a produção da leguminosa?
Segundo o Relatório de Avaliação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) de 2020 e, com base no último censo agropecuário, cerca de 3,9 milhões de estabelecimentos brasileiros pertencem à agricultura familiar, representando 77% das unidades agrícolas, em um universo de 5 milhões de propriedades rurais levantadas. O setor se destaca como produtor de alimentos como milho, mandioca, pecuária leiteira e de corte, feijão, arroz, café, trigo, frutas e hortaliças. No caso do feijão, 42% da produção nacional resulta do trabalho de agricultores familiares.
A Confederação da Agricultura Familiar (CONAFER) destaca que os principais municípios produtores de feijão do país são: Unaí (MG), Itapeva (SP), Cristalina (GO), Sorriso (MT), Paracatu (MG), Brasília (DF), Irati (PR), Primavera do Leste (MT) e Prudentópolis (PR), sendo este último um dos maiores produtores nacionais, apresentando um perfil de pequenos produtores familiares com uma produção praticamente 100% de feijão-preto.
A importância da leguminosa na transformação de sistemas alimentares
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), para atingir as metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), mais especificamente do ODS 2, até 2030 os sistemas agroalimentares devem ser transformados de forma a garantir que eles forneçam alimentos nutritivos seguros e de baixo custo que tornem as dietas saudáveis mais acessíveis para todos, de forma sustentável e inclusiva.
O WRI Brasil, em uma publicação recente que fala sobre o cultivo e a alimentação no mundo, expõe que aumentar a autossuficiência interna para algumas culturas como o feijão, a mandioca, batatas, sorgo e painço, é importante para assegurar a segurança alimentar e autossuficiência dos países. Para isso, o instituto ressalta que aumentar a assistência ao desenvolvimento agrícola e incentivar pesquisas no setor para impulsionar a produtividade e a resiliência dessas culturas é fundamental. Avanços nas tecnologias de melhoramento genético, bem como nas práticas de gestão do solo e da água, podem ajudar a aumentar a produção local de alimentos dos países em desenvolvimento de forma sustentável e reduzir a dependência de importações.
O incentivo ao consumo e à produção diversificada de alimentos, além de contribuir com a segurança alimentar, possui função essencial na geração de emprego e renda. Isso protege também a agrobiodiversidade e os ecossistemas, colaborando assim, para minimizar os riscos decorrentes da degradação ambiental e do aquecimento global.
Principais fontes
Principais fontes:
Alliance of Bioversity International e o International Centre for Tropical Agriculture (CIAT). Cultivo de colheitas melhores. Disponível em: https://ciat.cgiar.org/what-we-do/breeding-better-crops/ Acesso em: 20 jan. de 2023.
Confederação da Agricultura Familiar (CONAFER). FEIJÃO NO PRATO: Produção Supera Consumo No País; Agricultura Familiar É Responsável Por 42% Da Produção Nacional. Disponível em: https://conafer.org.br/feijao-no-prato-producao-supera-consumo-no-pais-agricultura-familiar-e-responsavel-por-42-da-producao-nacional/Acesso em: 20 jan. de 2023.
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2022. Disponível em: https://www.fao.org/3/cc0639en/online/sofi-2022/introduction.html Acesso em: 18 jan. de 2023.
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