Mais de 7 mil piscinas olímpicas de água tratada são desperdiçadas por dia no Brasil
O País apresenta problemas de abastecimento enquanto enfrenta prejuízos financeiros e de mal uso da água
Você deve lembrar como é ligar a TV e assistir a previsão do tempo com alerta de preocupação pela falta de chuvas em algumas regiões do Brasil. Na última década, uma série de problemas ocasionaram crises hídricas que afetam grande parte da população. Em 2014, por exemplo, a falta de água levou o Sistema Cantareira, responsável por abastecer mais de 9 milhões de pessoas na Grande São Paulo, a passar por um importante período de estiagem.
Para entender o que pode levar à perda de água no País, medir seus níveis e compreender as causas e consequências dela, o Instituto Trata Brasil, com parceria institucional da Asfamas (Associação Brasileira dos Fabricantes de Materiais para Saneamento) e da Water.org, com elaboração da consultoria GO Associados, divulgou o estudo “Perdas de água potável: desafios para disponibilidade hídrica e avanço da eficiência do saneamento básico no Brasil”.
O relatório foi feito a partir de dados públicos do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento e teve como base o ano de 2020. Ao longo do estudo, informações foram reunidas e mostraram razões para o desperdício de água no seu processo de distribuição. Ele deu destaque para vazamento, erros de medição e consumo não autorizados, todas ocorrências que podem ocasionar impactos ambientais negativos, além de desfavorecer a receita e aumentar os custos de produção.
Para ter maior noção sobre quais são essas perdas e a dimensão delas no País, o relatório mostrou que o volume de água perdida nos sistemas de distribuição no Brasil equivale a 7,8 mil piscinas olímpicas de água tratada desperdiçada diariamente.
Como ocorre o desperdício?
Existem diversas maneiras de se perder água, desde a fonte distribuidora até o consumidor final. Especificamente olhando para a medição de consumo, foram criados conceitos que estabelecem perdas de água aparentes ou reais.
As perdas aparentes são as fraudes, em que a medição em endereços residenciais e comerciais é manipulada, fazendo com que o consumo de água seja maior do que o que foi registrado. Geralmente, são ocasionadas pela violação de hidrômetros. Ou ainda, por problemas no cadastro dos usuários, de uma empresa, por exemplo, e também erros de medição e ligações clandestinas.
Vazamentos nas redes de abastecimento, nos reservatórios e nas ligações até os hidrômetros são considerados perdas reais, em que o desperdício de água é muitas vezes até maior do que nas perdas aparentes.
Plano para conter as perdas
Apesar de existirem diversos estudos para combater o desperdício, o relatório aponta que é impossível contar com uma rede de distribuição hídrica sem perdas. Por isso, há razões técnicas e econômicas que estabelecem limites de perda.
A International Water Association (IWA) possui um Balanço Hídrico, criado em 2000, para avaliar as principais causas do desperdício de água desde a fonte até a sua distribuição e utilização em casas, prédios e empresas. A ideia é medir o consumo, acompanhar os gastos e traçar planos de economia e redução do desperdício. Mas como fazer isso?
Para entender um dos conceitos que fazem parte do plano de redução do desperdício de água desenvolvido pela organização, é preciso conhecer as definições de consumo autorizado da água. Este consumo é o volume de água que será entregue aos consumidores cadastrados na empresa de saneamento da sua região. Aí estão incluídos todos os usos, da própria empresa de saneamento até o comércio, as residências e as indústrias.
O consumo autorizado ainda é dividido entre aquele que é faturado, que a gente conhece como o que é cobrado com base nos hidrômetros; e o não faturado, que a companhia de saneamento destina ao uso administrativo e operacional. Para ficar mais claro, alguns exemplos de consumo autorizado não faturado são a água usada pelos Bombeiros para combater incêndios, lavagem das ruas, rega de espaços públicos verdes etc.
Frente aos problemas destacados pelo relatório, é importante contar com medidas de contenção de perdas, para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos como metas para as Nações Unidas, principalmente o ODS 6 – Água Potável e Saneamento. Nesse sentido, o Brasil se comprometeu, até 2030, a “aumentar substancialmente a eficiência do uso da água em todos os setores, assegurando retiradas sustentáveis e o abastecimento de água doce para reduzir substancialmente o número de pessoas que sofrem com a escassez”.
Principais fontes
Relatório - https://tratabrasil.org.br/wp-content/uploads/2022/09/Relatorio_Completo.pdf
ODS - https://www.ipea.gov.br/ods/ods6.html
El País - https://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/09/politica/1423507719_304859.html
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