Mulheres indígenas conectadas e guardiãs do meio ambiente
Novas tecnologias mobilizam mulheres indígenas pela defesa dos biomas e dos direitos dos seus povos
Lideranças Baniwa e Pankararu rememoram os passos da articulação política da ANMIGA, instância política que reúne mulheres indígenas em todo o Brasil
Nos seis biomas brasileiros – Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal – as mulheres indígenas movimentam uma estratégia política de atuação em rede para garantir seu protagonismo como lideranças comunitárias. Há algum tempo, a ANMIGA – Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade, procura unir as mulheres dos 305 povos indígenas das principais regiões brasileiras por meio de encontros on-line.
Muito tem se falado sobre a resistência de alguns grupos ao ver indígenas utilizando celulares, computadores, como se isso fosse um impedimento para que eles mantenham sua cultura e costumes vivos. Pelo contrário, a tecnologia só tem a contribuir para que, com celulares, computadores e conexões de internet, a comunicação entre as comunidades seja facilitada. A ONU Mulheres Brasil apoia e incentiva diversas ações nesse sentido. Publicou em seu site uma entrevista com uma antropóloga e geógrafa, Cristiane Pankararu, justamente falando dessa questão e da importância dessas tecnologias para o grupo da ANMIGA. Cristiane reforçou a força da frente nacional ANMIGA como referência para as mulheres indigenas. Ocorrem periodicamente plenárias das mulheres, discussão de projetos voltados para os seus direitos e a transmissão de conhecimentos em todas as idades.
“Vai desde a tia parteira, que nunca foi para a escola, mas tem conhecimento singular que transmite na forma dela à formação indígena. A gente quer que ela se sinta representada. Para nós, na ANMIGA, as mulheres estão sendo representadas por biomas. Todas as mulheres são água, semente, elemento ar, fogo, a gente começa essa discussão da importância da mulher nos territórios”, explica Braulina Baniwa, uma das lideranças do grupo.
A ONU e a antropóloga apontam as mulheres indígenas como “guardiãs de vários conhecimentos” e por isso, sua participação nas decisões políticas e de defesa do meio ambiente, cada uma em seu bioma, é vital para o progresso das reivindicações e sua solução.
Representatividade e ligação com a natureza
De acordo com o censo demográfico 2010, há 896 mil pessoas indígenas no Brasil: 572 mil ou 63,8 %, viviam na área rural e 517 mil, ou 57,5 %, moravam em terras indígenas oficialmente reconhecidas. Entre esse contingente populacional e distribuição geográfica, as mulheres indígenas vencem barreiras e fortalecem os laços interétnicos em busca de empoderamento político e igualdade de direitos.
Na ANMIGA, é consenso que as novas tecnologias são aliadas, pois “as redes sociais são usadas como instrumento de mobilização. Descobrimos a internet como uma das principais ferramentas”, declarou a antropóloga Cristiane. Nos últimos anos, vários eventos foram realizados utilizando a internet, como o primeiro ATL On-line, Assembleia de Mulheres on-line, campanhas de vacinação, campanha da APIB da Emergência Indígena, “Vacina, Parente”, totalmente organizado por mulheres indígenas.
“Somos mulheres-semente, mulheres-água, mulheres-raízes, mulheres-tronco, árvores, frutos, folhas. É isso o que falamos sobre Mulheres Originárias. A mãe do Brasil é indígena”, completa Cristiane. A imagem que elas ligam à ANMIGA é uma mullher gestando e por trás, várias raízes, pois ela não anda só. Ela é coletiva.
Principais fontes
Fonte: ONU Mulheres.