Povos indígenas são considerados vitais na preservação da biodiversidade
Com forma única de viver e constituindo apenas 5% da população mundial, os povos indígenas ajudam a preservar a fauna e a flora do local onde habitam
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), os povos indígenas são fundamentais para a preservação do meio ambiente. Seus modos de vida podem nos ensinar muito sobre como preservar os recursos naturais e cultivar alimentos de maneira sustentável, e ainda respeitar a natureza.
A organização aponta que 28% da superfície terrestre do mundo, que inclui algumas das áreas florestais mais ecologicamente intactas e biodiversas, são gerenciadas principalmente por povos indígenas, pequenos produtores e comunidades locais. E, considerando que essas florestas são cruciais para compensar as emissões de gases de efeito estufa e manter a biodiversidade, ressalta-se ainda mais a importância desses povos para a sustentabilidade das gerações futuras.
A biodiversidade global está diminuindo
De acordo com o relatório de avaliação global sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos da Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), globalmente, variedades de plantas locais e animais domesticados estão desaparecendo. Esta perda de diversidade, incluindo a diversidade genética, representa um sério risco para a segurança alimentar global por diminuir a resiliência de muitos sistemas a ameaças como pragas, doenças e às alterações climáticas.
Cada vez menos variedades de plantas e animais estão sendo cultivados, criados, comercializados e mantidos em todo o mundo, apesar de muitos esforços locais, que incluem os de povos indígenas e comunidades tradicionais. Em 2016, 559 das 6.190 raças de mamíferos domesticados utilizados para alimentação e agricultura, ou seja, mais de 9% foram extintos e pelo menos mais 1.000 estão ameaçadas de extinção. Além disso, a redução na diversidade de plantas cultivadas, significa que os agroecossistemas são menos resilientes contra futuras mudanças climáticas, pragas e doenças. Essas mudanças criam incertezas sobre a sustentabilidade das espécies, funções do ecossistema e a entrega das contribuições da natureza para as pessoas.
Práticas agrícolas de povos indígenas são mais bem adaptadas a um clima em mudança
Estratégias e práticas agrícolas sustentáveis podem ser projetadas para proteger espécies vulneráveis e reduzir o impacto de espécies indesejadas que ameaçam a produção de alimentos (como plantas daninhas, pragas ou doenças). Mas a diminuição generalizada da biodiversidade, tanto em termos de distribuição geográfica como em tamanhos populacionais de muitas espécies, deixa claro que, embora a evolução das atividades conduzidas pelo homem possa ser rápida, muitas vezes não tem sido suficiente para solucionar o problema.
O relatório do IPBES observou também que os povos indígenas geralmente estão em melhor posição do que os cientistas para fornecer informações sobre a biodiversidade local e as mudanças ambientais, e são contribuintes importantes para a governança da biodiversidade em níveis local e global.
A FAO destaca que ao longo dos séculos, os povos indígenas desenvolveram técnicas agrícolas adaptadas a ambientes extremos, onde costumam viver. Dessa forma, eles, geralmente, cultivam plantas que se adaptam a essas condições. São mais resistentes a secas, altitude, inundações ou outras condições extremas. Técnicas desenvolvidas por eles, como terraços para evitar a erosão do solo ou jardins flutuantes para fazer uso de campos inundados, são bem adequados para os eventos climáticos cada vez mais extremos e mudanças de temperatura provocadas pela mudança climática.
Povos indígenas preservam grande parte da biodiversidade e temos muito o que aprender com eles
Segundo a The Nature Conservancy (TNC) as comunidades indígenas de todo o mundo nos demonstram que é possível viver em harmonia com a natureza. Levando vidas naturalmente sustentáveis, os povos indígenas preservam esses espaços, ajudando a preservar a biodiversidade de plantas e animais na natureza. E tudo isso é essencial para a segurança alimentar e nutricional global.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) ou, em inglês, United Nations Environment Programme, UNEP, especialistas sugerem que devemos aprender com os exemplos ambientais que as comunidades indígenas nos dão. O enfrentamento da crise planetária devido às mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição, pode muito ser amparado pelo conhecimento da forma de viver dessas comunidades, em harmonia com a natureza, por milhares de anos.
Além disso, incluir povos indígenas na governança ambiental e aproveitar seus conhecimentos pode melhorar nossa qualidade de vida, assim como a conservação, restauração e uso sustentável da natureza, e isso beneficia a sociedade em geral.
A FAO também acredita que mobilizar o conhecimento que se origina dos legados históricos que esses povos nos deixam é importante para enfrentar os desafios que a agricultura e os alimentos enfrentam hoje e no futuro. E a organização ainda reforça que jamais conseguiremos soluções de longo prazo para as mudanças climáticas e a segurança alimentar e nutricional sem buscar ajuda e proteção dos direitos dos povos indígenas.
Principais fontes
Principais fontes:
IPBES (2019): Relatório de avaliação global sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos da Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. ES Brondizio, J. Settele, S. Díaz e HT Ngo (editores). Secretaria do IPBES, Bonn, Alemanha. 1148 páginas. https://doi.org/10.5281/zenodo.3831673
Nações Unidas (UN). 5 maneiras que os povos indígenas estão ajudando o mundo a alcançar a #FomeZero. Disponível: https://news.un.org/pt/story/2019/08/1683741 Acesso em: 11 ago. 2022.
United Nations Environment Programme (UNEP). Como o conhecimento indígena pode ajudar a prevenir crises ambientais. Disponível: https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/como-o-conhecimento-indigena-pode-ajudar-prevenir-crises Acesso em: 11 ago. 2022.
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